quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Princípio da Incerteza

Acendo as luzes que me apontam para a escuridão.
Que mar é esse no qual eu me jogo sem me preocupar com as pedras que me cortam e os perigos que me cercam?
Que olhar é esse que para mim parace tão cheio de significados, mas do qual eu não consigo a resposta para a mais simples pergunta?
Quantos verões ainda restarão? E quantos mais outros invernos?
Acendo as luzes que apenas servem para deixar a névoa mais espessa.
Durma, sonhe criança!
Talvez de um dos seus sonhos recorrentes eu tire a resposta da minha dúvida principal, da incerteza que me persegue.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

dois trechos, sensibilidade

"(...) no amor, encontro no outro a negatividade própria ao meu desejo. Eu vejo no outro não a determinação do meu desejo, mas a possibilidade de que ele encontre uma forma para a minha inquietude e minha indeterminação."
(atribuído a Jacques Lacan)

"(...) se ele quer ser 'desejado' ou 'amado' ou ainda 'reconhecido' em seu valor humano, em sua realidade de indivíduo humano [que não é uma realidade de portador da dignidade de certos direitos e características determinadas, mas uma realidade marcada pela falta e pela indeterminação(...)]."
(Alexandre Kojève. Introduction à la lecture de Hegel)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Saint Paul's Cathedral at night

Não há mais doces palavras. Todas elas estão suspensas.
Um vento bateu forte no quintal ao lado do meu, dentes-de-leão voaram como se fossem uma nuvem de mosquitos, mas eram apenas leves dentes-de-leão.
Gostaria que debaixo de cada palavra existisse um significado encoberto, mas elas são cruas como carne fresca e duras como um pedaço de granito.
Os sonhos? Resolveram tirar férias e ausentaram-se de mim.
Vai saber por onde eles estão... Espero que estejam numa bela praia na Samoa Ocidental!
Queria reviver o doce mistério de ontem, a brincadeira de esconder, a fuga dos olhos...
Mas, não há mais olhos para fugirem. (expressão de infinita decepção)
Há apenas dois olhos desemparelhados, ressecados e ardentes pelo ar seco e pela poluição. Queria um pouco de soro fisiológico, apenas para sentir a falsa sensação de chorar, apenas para sentir os olhos lacrimejarem.
Voltando às palavras, queria ter elas nas mãos como carvão e barro, para fazê-las concretas e sentí-las paupáveis e maleáveis.
Doces palavras, açúcar de fruta, cítricas. Amaria sentí-las batendo no meu rosto.
Tudo suspenso.
Não há o que ler. E nem o que se ler.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

releituras

tenho certeza que dá pra viver em São Paulo de forma mais humanizada. ainda é possível encontrar pessoas que gostam de uma prosa, que são gentis.
debaixo das milhões de desculpas, o que se acoberta é a má vontade com o outro, é a incompetência generalizada do brasileiro em dialogar (brasileiros não dialogam, em geral, eles apenas são subservientes e abanam o rabinho pra quem tem mais ou vem de fora e menosprezam quem está socialmente abaixo deles).
pessoas esclarecidas, que cultivam o hábito de conversar, são cada vez mais a exceção. Mas como é bom encontrá-las.
PS.: Ah, psicólogos são pessoas doentes, ainda não conheci um que fosse bom da cabeça. Deus me livre de passar pela mão dessa gente!
boa semana a todos!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O sem fim

O sem fim se abre, tão belo quanto temeroso.
Se tudo acabasse hoje, não sofreria.
O prolongamento da dor é o que me põe medo.
Os mesmos olhos de sempre, pesados como chumbo, querendo passar por dentro de mim.
Por isso caminho passos assim, meio sem direção.
Por isso me acostumei a ficar olhando tudo do meu canto.
Queria ser uma peça à venda, pequena coisa barata, para que alguém me comprasse e botasse dois olhos de alegre curiosidade sobre mim.
Sinto um peso tão grande nos ombros ao cruzar portas que eu abri, más portas, más passagens.
O que vem depois?
Queria que viesse um belo dia de sol.

(SP 4/12/2007)

Lualuar

Não me preocupo, apenas me ocupo em andar e sentir a chuva cair. Num dia assim como este.
A minha cabeça dói um pouco, deveria ter botado um pouco mais de fé que ontem faria um frio intenso e não ter enfrentado todo o frio da tarde com uma camiseta curta e mais nada.
Hoje é um feriado besta e sem sentido: nosso país é independente!
O Brasil, essa ficção, completa 188 anos de independência, daqui a 12 anos será comemorado o bicentenário. Com toda a pompa e circunstância comemoraremos duzentos anos de liberdade!
Mas, há algo interessante que gostaria de dizer: em nenhum outro lugar do mundo existe o termo "luar". É um IDIOTISMO, mas calma, não é uma criação de idiotas, é uma palavra que não significa nada em nenhum outro idioma. Assim como saudade, que só existe em língua portuguesa.
Eu não utilizo luar. Apenas digo lua ou noite enluarada.
O luar seria o brilho da lua? Lua nova, lua cheia?
O luar, alguns dizem luar, a única coisa que eu conheço é aquela música "luar do sertão".
O luar. Aluar. Alumiar.
Acho que a palavra só vale pela riqueza de vocabulário do sertanejo.
Eu não canto ao luar, não farei serenatas ao luar. Caminho apenas debaixo do brilho da lua.
Sete de setembro, chuva, céu encoberto. O sol deu as caras, assim, de leve.
Hoje a lua não vai brilhar no céu.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Às vezes escrevo aqui sobre assuntos variados, às vezes mudo o foco para outros temas, pra outras observações.
Mas, este lugar aqui existe por um motivo claro: é pra ser o lugar no qual eu revivo uma certa noite de janeiro. Uma certa noite quente de janeiro, que aconteceu há alguns anos.
Esse foi o lugar que eu escolhi para contar histórias, pra sonhar.
A vida corre lá fora, ela é intensa, muitas coisas acontecem e tudo permanece o mesmo.
Aqui, ao contrário, como no céu, tudo permanece. A estrela que eu vi uma vez e ainda me fascina continua longe do alcance dos meus dedos, mas hoje brilha mais.
E eu me apaixono cada vez mais por essa estrela: quente-fria, próxima-distante e tão minha (por ser de ninguém).
Este lugar é isso: é meu livro de horas, onde eu conto a espera e vejo a passagem do tempo.
É neste lugar que o medo e a angústia tentam superar o desejo do gozo represado há tanto tempo.
É neste lugar que eu passo a limpo todas as horas, todas as histórias, todos os mapas, os planos.
E busco.
E esta estrela.
Me dará a direção.