segunda-feira, 25 de outubro de 2010

subida aos céus (Lily Belle May June)

Fico feliz por ter concluído mais esse projeto. Se existo, existo apenas por um motivo: para contradizer tudo. Para fazer tudo diferente e de um outro jeito. Eu vivo, eu sou, eu faço!
Deixo aqui, novamente, o que tenho de melhor em mim. O meu melhor é de todos vocês e, principalmente, é seu!

Lily Belle May June (LBMJ)

LBMJ

Ambiciones posibles volan libres
atravesan calles, jugan se delante de los coches
pierden la hora e los encuentros

Ambiciones posibles parecen ser regidas por el cielo
por un océano de coincidencias
que existen apenas porque damos importancia a ellas

Ambiciones posibles pasan por el total desaire por la vida
y por la esperanza en encuentros casuales
acabando se siempre en horas de soledad

ambiciones posibles caminan solas en dias lluviosos,
senten miedo de la muerte en el medio de la madrugada
y saen sin abrigo en los dias de invierno

Ambiciones posibles mostran la tristeza en todo:
en la risa de los payasos,
en el primero dia de un niño en la escuela
y en el silencio de un cuarto de hospital

Ambiciones posibles volan libres
parten para muy lejos
y nunca, nunca volven iguales.

( Gustavo Alcoforado)

*Obs.: Qualquer comentário ou correção, por favor me escrevam

recém-liberto

Sexta-feira tive um encontro interessante, um desses encontros interessantes que de vez em quando a vida me possibilita.
Era um homem, um rapaz, comum.
Seu nome era Renato (primeiro fato irônico: perder a liberdade e recuperar = viver de novo). Renato, aquele que nasceu de novo.
Ele era um rapaz franzino e tinha todos os requisitos que um jovem tem para ir preso: morador da periferia, pardo e com o sobrenome Da Silva.
Tinha um sorriso juvenil estampado no rosto, que contrastava com o relato dos horrores presenciados no seu período de reclusão.
Nove meses (segunda ironia), Renato estivera nove meses recluso.
Se ele tinha culpa, não perguntei (isso não me interessava!). Mas, provavelmente sim.
Afinal ele era apenas mais um Renato da Silva, com mãe, com mulher e com filho que vive numa cidade na qual quem manda é o dinheiro. Na qual tudo é consumo, é poder, é luxo.
Renato me mostrou as fotos de seu filho e a pilha de cartas que recebera na prisão. Seu único tesouro, a única coisa, além da roupa do corpo, que ele trouxe daquele lugar.
E eu pensei na minha vida, pensei no quanto foi bom nunca colocar a minha liberdade em risco, nunca ter corrido o risco de seguir a lei do mais forte dentro de uma prisão.
E olhei para as luzes da cidade, pensei em todas as desigualdades.
Segui meu caminho e Renato seguiu o dele, infinitamente feliz por recuperar algo que perdeu.
Infelizmente eu não soube quantificar a sua felicidade, pois não sei qual é a sensação de recuperar aquilo que eu nunca perdi.
E Renato seguiu seu caminho.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Para não esquecer!

Apenas um tipo de pessoas me assusta: são aquelas que parecem agir totalmente desprovidas de paixão.

(pra não esquecer, nunca.)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A intencionalidade

"I wish her safe from harm
To find yourself in a foreign land
Another refugee outsider refugee"

(the people that we love)

Eu sempre soube o que você queria, saquei desde o início!
Você veio até mim por ter tempo de sobra, pela solidão nesse tempo livre e por medo do que poderia acontecer com você.
Foi fácil descobrir, foi fácil ler suas intenções.
Enquanto eu quis, brinquei com você de ser usado. Brinquei de ser brinquedo em sua mão, embora me entediasse muito, pois você não era tão boa assim para criar jogos que me excitassem.
Sou um gato velho, não me interessa mais correr atrás dos novelos. Quero apenas comida, água, sexo e, muito de vez em quando, algum carinho.
E você nunca se deu conta disso.
Você pergunta demais, e eu nunca faço perguntas irrelevantes a mim mesmo.
Você pergunta demais, pergunta coisas sem importância, acha que faz grandes descobertas quando analisa as pistas (falsas) óbvias que eu deixo espalhadas pelo caminho.
No fim, tudo deu certo.
Você fez o seu uso, me descartou.
Me deixou em paz, me deu um descanso, me livrou das suas perguntas.
Você pergunta demais e eu pouco me importo em dar respostas satisfatórias a mim mesmo.

sábado, 16 de outubro de 2010

La Malinconia (para Glória)

Sexta-feira à tarde, chove em São Paulo.
Choveu em São Paulo, é a senha para a cidade travar.
Tomei chuva na Lapa desde as 4 horas da tarde, chuva forte. Com muita sorte não adoecerei.
Fui para o ponto esperar o 278A em direção da Penha. Trajeto Penha-Lapa, antigo trajeto na vida dos paulistanos.
Não estou com muita sorte, o ponto de ônibus está todo destelhado e o calçamento está todo quebrado: a pracinha na Rua Clécia com a Crasso está em obras!
E tome chuva!
Chega o 278A, viagem interminável, horas e mais horas. Quando entramos na marginal Tietê eu perdi a paciência, mais de uma hora entre a Ponte Cruzeiro do Sul e a Ponte da Vila Guilherme. Decidi descer.
Caminho pelas ruas do Pari, minhas ruas velhas conhecidas. Vou até o ponto descoberto aonde passa o 271P, Estação da Luz-Cangaíba.
Espero ter sorte pra chegar em casa em pouco tempo, tomar um banho quente e comer alguma coisa. Estou morrendo de fome!
E a chuva forte não dá um tempo! Chove forte das 4h00 até as 18h00, sem pausa.
Pergunto a uma moça se faz tempo que ela está esperando o ônibus, ela responde que espera há mais ou menos meia hora.
No ponto as pessoas desistem, uma a uma desistem. O ponto é descoberto, apenas eu e ela resistimos à espera, tomando muita chuva.
Na espera começamos a conversar, sobre o ônibus que não chega, sobre as chuvas em SP, sobre itinerários possíveis para economizar tempo.
Ela é bonita. Tudo nela é bonito.
Seu rosto é formado por proporções harmônicas, seu corpo é bem feito e suas formas chamam a atenção. Ela se veste muito bem, sem exageros, sem cafonices e sem badulaques.
Esperamos ainda mais meia hora debaixo de chuva, conversando sobre coisas várias sem muita importância, apenas para aproveitar a ocasião.
Depois de muita espera chega o ônibus. Eu e ela subimos: ensopados, cansados e famintos.
Na proximidade eu pude falar olhando diretamente para ela e admirando o formato de sua boca, o arranjo perfeito de seus dentes, o seu nariz, os seus olhos.
Tudo perfeito, tudo harmônico.
Mas, o homem racional dentro de mim atentou para a simplicidade daquela garota. Ela falava frases curtas e repetia muito a si mesma.
Limitação, falta de convicções? Não sei, mas não levei a sério o homem racional que vive em mim. Passei a escutá-la.
Mesmo simples assim, ela me falou que tinha apenas 17 anos, e que vivia por conta própria, trabalhando para se sustentar, desde os 16.
E ela parecia ser tão frágil e tão facilmente enganável. Mas também deixava transparecer uma boa alma.
O que teria acontecido com ela? O que será dela nessa vida?
Ela falou de seus sonhos, falou que tinha largado a escola no segundo ano do médio, mas que queria retornar o quanto antes para poder estudar veterinária.
Mais uma vez, o maldito homem racional que vive em mim julgou aquela alma: veterinária, não acho que você tenha a mínima chance!
Mas, eu continuei a ouví-la. A ver ela gesticular enquanto falava.
Seu nome: Glória!
Sim, ela era uma Glória! Um monumento à proporção entre as formas e à beleza, um monumento ainda infantil, embora viva em uma relação conjugal desde os dezesseis anos.
Mesmo quando reclama da dureza da vida ela mostra uma felicidade juvenil, uma esperança qualquer num amanhã.
Tive que descer bem antes dela, a chuva já havia passado, o trânsito fluíra, bem devagar, mas fluíra.
Ao sair, olhei pela última vez para ela e percebi que ela, envergonhada, também olhara para mim. Deixando que eu visse aquele rosto lindo pela última vez.
Há encontros que acontecem apenas muma única vez na vida.
Mas eu fico contente de um dia ter encontrado a Glória.
Já não chovia mais em São Paulo, eram nove horas da noite, cheguei em casa muito cansado.

(para Glória)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

l'Angoscia

Não me peça para ficar, também não me mande embora.
Eu sei a hora. Eu sempre sei qual é a hora.
Eu vou sim, eu já fui. Portanto, não me peça pra ficar!
Não é mais você ou ela, não são mais todas as tramas maquinadas, não é mais nada.
Não imagine que vou ficar mais tempo tentando decifrar códigos que não têm significado nenhum. Não me interessam mais seus códigos.
Eu já fui, eu já saí. Só o que restou de mim foi minha mão na porta: a última parte de mim que ainda esperava ouvir um "volta!".
E você nem me fez aquela pergunta simples.
E você nem esboçou aquela frase tola.
Eu saí, sem adeus, sem sorrisos, sem nada.
Ela não me disse nunca mais.
Você não me disse pra ficar.
E eu já não quero mais. Ficar assim, perdido.
Minha mão, meus dedos girando lentamente a maçaneta da porta enquanto não se ouve um "entra" ou um "espera um pouco". Nada!
Ela não me disse nada, não me insultou e nem se insinuou.
Você manteve aquele silêncio covarde.
Atrás de mim a porta bateu, o barulho fez eco.
E você manteve o seu silêncio covarde.
E ela, que um dia me olhou nos olhos, hoje é só uma nódoa embaçada na minha memória.

sábado, 2 de outubro de 2010

Responsabilidade Moral

Eu não estava presente quando você prendeu seus cabelos muito bem presos para o seu grande momento.
Eu não senti o seu coração disparar e nem suas pernas tremerem.
Eu não pude perceber que você sentiu tonturas e um pouco de dor de barriga enquanto o grande momento se aproximava.
E, quando tudo o que você sentia era uma grande vontade de fugir correndo daquele lugar, eu não pude te abraçar e te dizer: "tudo bem! Aconteça o que acontecer, eu vou te amar do mesmo jeito."
Eu não pude ser complacente com o seu fracasso e nem exultante com a sua glória, com o seu momento principal.
Eu não estava presente.
A não ser em pensamentos.
A não ser em palavras.
A não ser...
Que eu sempre estivesse lá!
Quando você prendia os seus cabelos e desejava ficar parecida com uma princesa, eram os meus olhos que os seus olhos procuravam na imensidão.
E quando seu coração acelerava e suas pernas tremiam, era com a sensação distante do meu abraço que a sua mente te levava pra um lugar tranquilo.
E quando a tontura e a dor de barriga te atormentavam antes do grande momento, era comigo na mente que você se concentrava para não errar. Era pra que eu não me envergonhasse de você que você não errava o menor gesto.
E quando tudo o que você queria era fugir daquele lugar, era a minha voz que você ouvia, dizendo bem baixinho no seu ouvido: "tudo bem! Aconteça o que acontecer, eu vou te amar do mesmo jeito."
E todo o barulho do momento era quebrado por esse sussurro.
E, no meio de cada movimento, você procurava com os olhos a minha silhueta por todos os cantos, mesmo sabendo que eu não estava lá.
E você sabia que meus braços estariam sempre abertos para você, seja para que você se escondesse do mundo depois do seu fracasso, seja pra receber seu sorriso de felicidade e a sua glória pessoal.
E eu estava lá!
Com todos os meus pensamentos.
Com todas as minhas palavras.
A não ser...