sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

estrela polar

Alma pitagorica, transmuta, vagueia
Lua de Sao Jorge no céu se despediu de mim, no calor de 30 graus do Brasil
Estrela polar solitaria me acompanhou ao cruzar os céus iluminados das grandes cidades do Norte
A Lua de Sao Jorge, ironica, me saudou com os menos 7 graus da chegada, num frio fim de madrugada
E vejo, e agora pude perceber, que tudo o que é meu nao esta nem aqui nem la,
Nao me espera para o jantar e nem para poder dormir
Mas sera que sonha comigo... Impossivel saber.
Tudo o que é meu, longe de mim
Seja aqui ou la,
Mas aqui a dor da distancia parece nao incomodar,
Agora descobri... Distancia doi menos que indiferenca.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mario e Giuli (texto de Maiuni, setembro de 2008)

Não me lembro se já postei este texto, mas sei que gosto muito dele.

* * *

Eles se encontraram na vida de forma interessante. Falaram sem se olhar.
Depois foram se apresentando, foram se conhecendo, foram se interessando.
Demorou algum tempo para que pudessem se tocar, nenhum tinha coragem de tocar o outro, ambos renunciavam às ilusões.
Os dois insistiam em, no momento em que chegavam em casa, olhar insistentemente para o espelho, procurando rugas, espinhas e alguns outros defeitos. Procuravam qualquer coisa, qualquer sinal evidente que os fizessem parecer ridículos e que dessem a eles os motivos necessários para assassinarem a paixão que queria nascer.
Mas não tinha jeito: cada vez que eles se viam a vontade de estar mais e mais próximos era incontrolável. Os dois se sentiam como dois idiotas quando um estava diante do outro, só sabiam rir, só sabiam soltar frases muito tolas e alegres.
Cada um se sentia a pessoa mais idiota do mundo, era como se o fingimento praticado tantas vezes na vida não funcionasse para eles dois, e olhe que os dois já eram pessoas razoavelmente experientes. Mas os dois queriam muito sempre estar perto um do outro, sempre se sentirem idiotas e sem palavras um do lado do outro.
E eles sabiam, e lidavam com isso da forma mais honesta possível, que um dia um não daria mais motivos para o outro rir, que os pequenos defeitos se tornariam insuportáveis com o tempo, que um trairia o outro e não teria coragem pra confessar.
E eles sempre falavam sobre isso, sobre o dia do desencontro, quando cada qual iria para um lado, faziam conjecturas: com traição, sem traição, com um outro parceiro, sozinho, com dramalhão, com brigas e baixarias para a delícia da vizinhança faminta de escândalos.
E no final os dois se abraçavam, com muita força.
Pacientemente esperavam pelo fim, pelo fim de algo que já nasce pra morrer, como se tivesse uma data de validade marcada em algum canto impossível de se ler.
Será que tudo se acaba amanhã? Daqui a um ano? Quando estivermos velhos ou quando morrermos?
Eles apenas se abraçam, sabem que tudo terá um fim um dia. Mas pouco se importam com isso.
Parece que a vida acertou ao juntá-los.

* * *
That summer fields grew high with foxglove stalks and ivy.
Wild apple blossoms everywhere.
Emerald green like none I have seen apart from dreams that escape me.
There was no girl as warm as you.

That summer fields grow high.
We had wildflower fever. We had to lay down where they grow.
How I've learned to hide, how I've locked inside, you'd be surprised if shown.
But you'll never, you'll never know...

(Stockton Gala Days)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Inccidia

O primeiro sonho que tive com você foi mais real do que vários acontecimentos, estávamos conversando em uma escadaria, não era um assunto muito bom, mas ao menos conseguíamos sorrir, ao menos tínhamos motivos para sair.
Depois vieram outros sonhos e mais outros, sonhos recorrentes e devaneios, em inglês existem palavras ótimas para definir esses sonhos (restless dreams, daydreaming etc).
Até minha realidade se torna difusa quando o assunto é você: você é a página arrancada do livro (justamente aquela página que é vital para a compreensão da história), você é a variável que falta para a equação ser resolvida, você é a palavra que é a coisa (você é a palavra que salta do puro conceito para a realidade).
Vivo preso no mundo das palavras, mas as palavras sozinhas não são mais do que palavras.
Não existem palavras mágicas: repetir um bilhão de vezes seu nome ou escrevê-lo infinitamente nunca fará com que a palavra tome a sua forma. Você é o que eu quero saber, seu nome é tudo o que tenho.
Não existem palavras mágicas. Hocus pocus nunca te trarão até mim.
Sonhos são bonitos, neles podemos ser, não há contradição, não há censura e eles sempre voltam, sejam os bons ou os ruins.
Poderia recortar seu nome em milhões de papéizinhos coloridos e fazer em cada qual uma prece, mas nem isso traria você pra mim.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Eccidia

Nos perdemos no meio do tempo porque nós o inventamos.
Dias, semanas, meses, anos e estações. Reduzimos os ciclos à insignificância do relógio e do calendário.
"Os dias passam rápido, as estações não são mais as mesmas!" Dizemos isso estupefatos, como se em algum tempo o dia ou as estações tivessem correspondido às nossas sensações.
Senti muito frio no tempo do frio, mas também já senti frio no meio do verão, assim como sinto calor insuportável nos dias ensolarados e secos do outono e do inverno.
O calendário se move muito rápido nos nossos dias cheios de imagens e vazios de descobertas. Nos tempos de escola o dia era infinito, ocupá-lo era uma tarefa que demandava muita criatividade, que nos enchia de tédio.
Hoje os dias são medidos no que sobra entre pagamento de contas, espera de feriados e, com alguma sorte, a espera de alguma data pra comemorar.
O infinitamente longo e prazeroso foi substituido pelo infinitamente rápido e repetitivo.
E agora aquela pergunta: o melhor ficou no passado ou o melhor ainda está por vir?
Entre o tédio e a esperança não vivo, fico preso em um-entre.
No passado não ficou o melhor, disso eu tenho certeza, no amanhã eu não faço nenhuma aposta.
Queria viver o eterno hoje de um animal que simplesmente vive, que não produz nem cultura e nem história, e que nunca viverá preso nesse entre.