terça-feira, 28 de junho de 2011

romeu e julieta


Seu amor é liquido?
Sua sexualidade é fluída?
Nada restará enfim.
Nem do brilho dos seus olhos, nem do gosto estranho da sua saliva e nem das pontas dos seus dedos.
Só o descanso, pra quem tiver a sorte.
Nem Justine, que tanto procuro.
Nem a Bela da Tarde.
Não se discute mais qual seria o sexo dos anjos.
A sexualidade é fluída.
E tudo passará.
E nada restará, enfim.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

eu mudo

Casa, portas, janelas, cama, televisão, fogão? tem que ter. geladeira? também. mesa nem sempre precisa, às vezes é necessário comer com o prato apoiado nos joelhos. às vezes falta espaço. colchão, cobertores (tem época que faz frio), ventilador para o verão. banheiro? queira deus que sempre seja do lado de dentro da casa. quintal, daqueles pequenos que só cabe o tanque ou daquele é que tão imenso quanto o próprio mundo? cachorro latindo no quintal? não no meu, talvez no do lado. Quartinho pequeno com só um vitrô. telhado de amianto, extremamente frio no frio, terrivelmente quente no calor.
Apartamento, escada, elevador, espaço coletivo, salão de festas, faltou luz? vá pelas escadas!
Casa, barraco, marquise, viaduto, cela, quarto de pensão, apartamento, sobrado com piscina. ajeita a antena que a televisão não está pegando bem!
Casa, casa, lugar nenhum.
Eu mudo, buscando lugar no mundo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sa minininha

Nas segundas-feiras acordo cheio de esperanças,
Nas terças-feiras metade da esperança se foi,
Nas quartas-feiras tenho vontade de morrer e me mato,
Nas quintas-feiras faço uma prece por nós dois,
Nas sextas-feiras leio os cartazes de cinema e sonho com você,
Nos sábados à noite eu me mato outra vez,
Nos domingos eu me preparo para tudo,
Pra nas segundas-feiras começar tudo de novo outra vez.
Sa minininha, de pernas que não são mais fininhas,
Saudade que veio e que foi.
Sa minininha, não sou teu e tu não é minha,
Mas nós dois não somos dois.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Junho

"Se sou um, prefiro estar em desacordo com o mundo do que comigo mesmo" (Entre o Passado e o Futuro)

-Nããããooooo!- disse ela, enquanto jogava para o alto todas as peças do quebra-cabeças - Eu não quero mais ver isso!
-O que foi? Porquê você fez isso? Eu passei tanto tempo querendo descobri qual era a figura desse enigma.
-Eu vi, vi que não queria ver! Era eu ali, de um jeito que eu não queria me ver!
-Como assim você? Não era você na figura!
-Era eu sim! Eu me vi, mas era eu de um jeito que eu não sou! Horrível!
-Não, não havia figura nenhuma, era uma forma ainda opaca e escura. Só sei que não era nem uma paisagem e também não era um lugar, era apenas uma figura opaca, ainda.
-Desculpe, tive medo, não me odeie por isso. Está com raiva?
-Sim e não.
-Como assim?
-Ocupei muito do meu tempo tentando resolver esse enigma, isso me deixa um pouco furioso. Mas, por outro lado, cheguei num impasse, vi que não conseguia mais encaixar peças, e isso me alivia. Mas vi algo, pude ver algo quando você jogou todas as peças pro alto e, por um segundo, elas ficaram todas suspensas no ar. Foi naquele breve segundo que a palavra cala e que a verdade pode ser sentida.
-Sinto muito!
-Tudo bem, eu saí do impasse, vi todas as peças girarem no ar, lentamente, vi seu rosto brilhando intensamente enquanto você espalhava todas as peças para o alto.
-E agora?
-Não sei, vou tentar juntar as peças novamente. Afinal, a figura não saiu, a figura sempre muda e eu nem sequer fazia a menor ideia do que estava para se formar. Milhares de pequenas peças opacas.
-E agora?
-Me ajuda a montar?
-Não.
-Me ajuda ao menos a juntar as peças?
-Não.
-Me ajuda ao menos com as peças perdidas?
-Talvez, com o tempo. Se eu lembrar.
-De qualquer forma, obrigado.
-Não me odeia por isso?
-Não.
E as peças estão espalhadas pelo chão, nenhuma peça escondida, nenhuma peça subtraída. Apenas peças de brilho opaco espalhadas pelo chão.
-Tenho que ir.
-Em definitivo?
-Se fosse definitivo eu te diria a senha secreta.
-Eu sei, espero por ela, desde sempre.
-Agora tenho que ir.
-Adeus?
-Não sei.