segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A volta mais longa

Reservei o domingo para dar uma volta no autódromo. Acesso livre, sem muros, sem grades, sem impedimentos. Tudo tão diferente. Era muito cedo, mais ou menos oito horas da manhã de um domingo gelado e preguiçoso. Não é só por aqui que as manhãs de domingo geladas são preguiçosas. Peguei o metrô, linha amarela, foi a primeira vez que peguei a linha amarela, que atravessa o Saint-Laurent e vai até Sherbrooke. Poucas pessoas nas ruas, no metrô. Manhã de domingo com cara de despedida, de fim de festa. Primeiro fui visitar a Biosphere, há algo de lindo naquele lugar. Não tão maravilhoso quanto o Museu da Civilização, mas muito parecido com locais como a Estação Ciência. Depois, caminhei rumo ao autódromo, para dar a minha volta. Um carro a 300 km/h completa uma volta em menos de um minuto e meio. A minha volta será infinitamente mais longa, e não serão 50, 60 ou 100 voltas: será uma volta única. Pessoas corajososas fazem cooper (será que ainda alguém usa esta expressão?), alguns, mais afoitos, vestem apenas shorts e camiseta e me cumprimentam durante a corrida. Atravesso a ponte principal, vejo a turbulência do Saint-Laurent carregar enorme placas de gelo que insistem em se formar, vejo o sol tímido se esforçando para vencer a barreira de nuvens pesadas que fazem com que uma fina camada de neve precipite, vejo albatrozes planarem maravilhosamente em busca de sua refeição matinal. E eu invejo-os. Minha volta completa dura mais que uma hora, observo os detalhes, os furos nas grades, os rapazes que se divertem dirigindo na pista, derrapando sobre a grossa camada de gelo, mas de forma responsável, sem jogar o carro sobre os que passam a pé, vejo o parque olímpico e o cassino de arquitetura de gosto duvidoso. Enfim, dou uma volta pelo autódromo, despendindo-me de um local aonde tudo é aberto, tudo é acessível e pode-se sentir o leve gosto da liberdade.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Gehena

O presente não é meu, dado que ele pertence a todos, dado que ele resulta das minhas ações, reações e inações. O futuro não é meu, visto que ele não é, então, ele não pertence a ninguém. Talvez ele nunca seja, talvez ele nunca chegue. Apenas o passado é meu. Minhas memórias, minhas apreensões, minha percepção. Eu não percebo as mesmas coisas que B, que não imagina as mesmas coisas que C, que não terá as mesmas lembranças que Z. Mesmo que eu, B, C e Z vivenciemos os mesmos fatos, cada um ficará marcado de forma diferente. O que para mim é indiferente, pode causar uma marca indelével na mente (alma) de Z. Realidade é percepção. ("Realidade é percepção" John Smith - Felon)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Luz eléctrica

Andei por ruas pelas quais ninguém anda, frio intenso, solidão imensa. Tudo tão meu, tudo tão longe. A morte dos garotos que se afogavam quando o gelo fino se partia, a morte do mafioso em seu luxuoso restaurante e os conflitos nas ex-colônias da África, tudo isso faz parte de algo que um dia foi. 21/12 - 11/01

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Autoroute Ville-Marie

Eu parei para ver os carros na via expressa. O frio havia diminuido bastante naquela semana e uma grama rala e avermelhada brotava nas encostas cobertas de neve. Autoroute Ville-Marie! Por uma dessas coincidências da vida, moro nas proximidades da Marginal Tietê, vizinho à Vila Maria. Autoroute viva, Marginal morta. As pontes por cima da Autoroute unem, as pontes da Marginal separam. Os carros passavam, passavam os imensos caminhões naquele belo dia gelado de sol. Hoje passam os ônibus, passam os caminhões e a Autoroute passou, vaga lembrança do Paralelo 45º Norte.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

metempsicose

John Singer Sargent, Portrait of Madame X (1884).

setembro

Nada de novo, apenas o tempo bagunçado. Sobrevivemos a agosto, nenhum cão raivoso nos mordeu. Setembro, a temperatura oscila. Logo chegará o verão, ruidoso e insuportável.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Sinapse

Acorda, Lázaro! Homem, morto, homem morto, morto-vivo, homem? Ou cansado, apenas? A voz no seu ouvido, o cheiro de bálsamo no corpo para disfarçar o cheiro da morte, a voz suave no seu ouvido. O corpo tremeu, de vida. Vida. Acorde, homem morto!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

E Pan pariu Satã

Lascivo, solitário. Meio homem, meio bode.
Com sua música, um feitiço.
Seus amores, impossíveis.
Trataram-no de cobrir de sangue, de colocar sobre ele culpa e crimes pesados.
Dos bosques solitários foi arrancado para um gélido inferno. Ou talvez quente, como as profundezas da Terra.
Sua música? Culpada pelos desejos perversos daqueles que querem parecer virtuosos.
De Pã geraram Satã.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Agosto

"(...) nós não percebemos a coisa inteira, percebemos sempre menos, percebemos apenas o que estamos interessados em perceber, ou melhor, o que temos interesse em perceber, devido a nossos interesses econômicos, nossas crenças ideológicas, nossas exigências psicológicas. Portanto, comumente, percebemos apenas clichês." (G.D. - A Imagem-Tempo)

Deus morreu!
Quem afirma isso?
Foi aquele homem que morreu e nem se quer se deu conta disso?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sonhadores

(E um punhado de clichês é tudo do que precisamosC.C., Penny Century)

Ele, ela. Ela, ele.
Um só, dois.
Um não precisa estar dentro,
não precisa entrar, pois nunca sai de dentro.
A ninfa e o pã, sempre e sempre brincando.
O enorme apartamento é tão grande quanto o mundo,
Se não há o que se comer, se come o que se há.
Ele, ela, os filhos do poeta.
O mais belo poema composto.
Lindo ele achar lindo o sangue dela que vem apenas uma vez por mês
Lindo é tudo.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

aprendendo a cuspir

Faço uma pergunta, a mesma forma como eu a elaboro eu utilizaria se fizesse uma afirmação. Mudo apenas a entonação para que você entenda meu questionamento.
Um ponto de interrogação (assim: ?) não sobre a minha cabeça, mas agora ao redor da sua. Questionamento que passa de mim para você.
Hã?
Queria que todo o questionamento fosse curto assim, fosse simples assim. Apenas uma breve interjeição de espanto.
Huh?
Toda boa questão, boa demais, precisa apenas de uma breve interjeição.
Sem perguntas longas, que iludem mais que perguntam, que respondem mais do que questionam e que nunca dizem realmente nada.
Apenas curtas interjeições.
Hein?
E depois sorrisos.
Nada mais que encanto.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Julho

"Draupadi, porque teimamos em duvidar quando recebemos uma grande alegria, esperando sempre que ela seja acompanhada de uma tristeza?"

Nós nunca sabemos do dia de amanhã, ele é sempre incerto, sempre nos reserva alguma surpresa.
Nós nunca, nunca sabemos de nada!
Nossa racionalidade?
Nossas precauções?
Nós nunca sabemos de nada!
Sempre julgamos o ontem pelo olhar do que temos hoje, sempre comparamos. E o bem que depositamos no amanhã é apenas o desejo de materialização do que imaginamos que seja um bem hoje.
Tão míopes, tão desorientados. Todos nós, pobres símios.

terça-feira, 28 de junho de 2011

romeu e julieta


Seu amor é liquido?
Sua sexualidade é fluída?
Nada restará enfim.
Nem do brilho dos seus olhos, nem do gosto estranho da sua saliva e nem das pontas dos seus dedos.
Só o descanso, pra quem tiver a sorte.
Nem Justine, que tanto procuro.
Nem a Bela da Tarde.
Não se discute mais qual seria o sexo dos anjos.
A sexualidade é fluída.
E tudo passará.
E nada restará, enfim.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

eu mudo

Casa, portas, janelas, cama, televisão, fogão? tem que ter. geladeira? também. mesa nem sempre precisa, às vezes é necessário comer com o prato apoiado nos joelhos. às vezes falta espaço. colchão, cobertores (tem época que faz frio), ventilador para o verão. banheiro? queira deus que sempre seja do lado de dentro da casa. quintal, daqueles pequenos que só cabe o tanque ou daquele é que tão imenso quanto o próprio mundo? cachorro latindo no quintal? não no meu, talvez no do lado. Quartinho pequeno com só um vitrô. telhado de amianto, extremamente frio no frio, terrivelmente quente no calor.
Apartamento, escada, elevador, espaço coletivo, salão de festas, faltou luz? vá pelas escadas!
Casa, barraco, marquise, viaduto, cela, quarto de pensão, apartamento, sobrado com piscina. ajeita a antena que a televisão não está pegando bem!
Casa, casa, lugar nenhum.
Eu mudo, buscando lugar no mundo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sa minininha

Nas segundas-feiras acordo cheio de esperanças,
Nas terças-feiras metade da esperança se foi,
Nas quartas-feiras tenho vontade de morrer e me mato,
Nas quintas-feiras faço uma prece por nós dois,
Nas sextas-feiras leio os cartazes de cinema e sonho com você,
Nos sábados à noite eu me mato outra vez,
Nos domingos eu me preparo para tudo,
Pra nas segundas-feiras começar tudo de novo outra vez.
Sa minininha, de pernas que não são mais fininhas,
Saudade que veio e que foi.
Sa minininha, não sou teu e tu não é minha,
Mas nós dois não somos dois.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Junho

"Se sou um, prefiro estar em desacordo com o mundo do que comigo mesmo" (Entre o Passado e o Futuro)

-Nããããooooo!- disse ela, enquanto jogava para o alto todas as peças do quebra-cabeças - Eu não quero mais ver isso!
-O que foi? Porquê você fez isso? Eu passei tanto tempo querendo descobri qual era a figura desse enigma.
-Eu vi, vi que não queria ver! Era eu ali, de um jeito que eu não queria me ver!
-Como assim você? Não era você na figura!
-Era eu sim! Eu me vi, mas era eu de um jeito que eu não sou! Horrível!
-Não, não havia figura nenhuma, era uma forma ainda opaca e escura. Só sei que não era nem uma paisagem e também não era um lugar, era apenas uma figura opaca, ainda.
-Desculpe, tive medo, não me odeie por isso. Está com raiva?
-Sim e não.
-Como assim?
-Ocupei muito do meu tempo tentando resolver esse enigma, isso me deixa um pouco furioso. Mas, por outro lado, cheguei num impasse, vi que não conseguia mais encaixar peças, e isso me alivia. Mas vi algo, pude ver algo quando você jogou todas as peças pro alto e, por um segundo, elas ficaram todas suspensas no ar. Foi naquele breve segundo que a palavra cala e que a verdade pode ser sentida.
-Sinto muito!
-Tudo bem, eu saí do impasse, vi todas as peças girarem no ar, lentamente, vi seu rosto brilhando intensamente enquanto você espalhava todas as peças para o alto.
-E agora?
-Não sei, vou tentar juntar as peças novamente. Afinal, a figura não saiu, a figura sempre muda e eu nem sequer fazia a menor ideia do que estava para se formar. Milhares de pequenas peças opacas.
-E agora?
-Me ajuda a montar?
-Não.
-Me ajuda ao menos a juntar as peças?
-Não.
-Me ajuda ao menos com as peças perdidas?
-Talvez, com o tempo. Se eu lembrar.
-De qualquer forma, obrigado.
-Não me odeia por isso?
-Não.
E as peças estão espalhadas pelo chão, nenhuma peça escondida, nenhuma peça subtraída. Apenas peças de brilho opaco espalhadas pelo chão.
-Tenho que ir.
-Em definitivo?
-Se fosse definitivo eu te diria a senha secreta.
-Eu sei, espero por ela, desde sempre.
-Agora tenho que ir.
-Adeus?
-Não sei.

terça-feira, 31 de maio de 2011

O brilho tímido e pálido de algumas estrelas azuis

"Cada tempo escolhe as psicopatologias das quais irá sofrer" (C. L.-S.).
A frase é bem antiga, mas é muito válida.
Por detrás da cortina é possível identificar a farsa.
Não há quebras de tabus, eles são apenas redefinidos. Isso porque nossa principal referência de cultura (aquela que lança e destrói as tendências que estarão na ordem do dia: os modismos) é uma sociedade cheia de tabus.
O autêntico escapa a tudo isso.
Por isso que o autêntico nos é tão estranho.
Ele não precisa se adequar, ele não se adequa, está fora de tudo isso, de todo esse lixo. Por isso ele tem um brilho tão intenso e indecifrável, que nos atrai e nos afasta com o mesmo poder mortífero. O poder de aniquilar o nosso confortável nihilismo. De nos apresentar uma razão.
Ele nos é estranho apenas por ser ele mesmo, ele não é e nem precisará ser outra coisa. Não é dele caber no nosso estreito entendimento de cabecinhas moldadas para agirem de tal ou tal modo, para, por meio de um jogo perverso de inculcações, poder, a cada época, separar NORMAL e ANORMAL.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Dádiva

Te ver assim, tão feliz, corta a minha alma como uma lâmina muito afiada e muito gelada.
Um frio percorre todo o meu corpo.
Talvez porque esteja aprendendo o significado da palavra NUNCA.
Uma das palavras vazias que nos enchem de temor: nunca, nada.
É mais gélido que a inocência solitária daquele que não sabe. Não saber é benção? Ignorância é paz?
A inocência solitária daquele que faz planos em silêncio agora ecoa em palavras que perderam todo o significado: saber corta e faz sangrar.
Pouco importa?
Pouco importaria.
E agora?
Nada?
Ou apenas o mesmo que sempre?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

As laçadas de Vênus

Impossível te ver no zênite, impossível te procurar no céu noturno.
Tu caminhas com o Sol, sempre antes de amanhecer ou sempre logo ao escurecer.
Não acompanhas o movimento das esferas superiores, avanças e recuas de forma excêntrica.
Epiciclos, é assim que eles chamam: epiciclos!
Tenho que fazer vários ajustes em meus calendários e aceitar algumas boas explicações dos antigos para acreditar que giras em torno da nossa esfera e não daquela outra esfera, o Sol.
Mentirei, sustentarei todas as velhas mentiras, agora que já sei o que é a mentira é o que é a verdade, pois é necessário, é extremamente necessário.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pôr-do-Sol

Sabe, aquela dorzinha vai passar, assim como esse vazio.
Vi o Sol laranja se pôr, é a melhor forma de olhar para ele sem correr o risco de queimar as retinas.
Vi no céu, além das estrelas, das muitas estrelas, aquelas manchas leitosas que parecem com nuvens, e que a gente só vê nos lugares onde há pouca luz artificial.
Sopre a cinza do carvão, sopre o pavio da vela, mas sopre com convicção, no escuro, para ver a chama se mexer, para ver a pequena brasa vermelha que insiste em dar vida ao fogo. Uma pequena brasa vermelha e insistente.
Como tudo na vida ela é insistente, assim, como só as pequenas coisas são capazes de fazer, ela persiste.
Não é o fogo que Prometeu roubou dos céus, é nosso fogo, breve, que apenas um ligeiro sopro é capaz de fazer oscilar ou se extinguir, mas é esse mesmo sopro que faz com que a chama se mantenha viva.
Essa dorzinha um dia vai passar, acho que assim como esse vazio.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A poeira

Tudo foi levado por uma leve brisa, passou agora.
Não sei o que sobra depois de tanto, não sei se nada sobra.
Meus olhos viram, meu corpo sentiu e, no instante seguinte, passou.
Você tem mais um minuto?
Eu não tenho, juro. Mas, se você dissesse "por favor, fica" eu permaneceria aqui na porta, eternamente.
O vento passou leve e carregou, uma fina camada de poeira, remexeu o que se assentou nos lugares em que eu não consigo tocar.
E você? Tem mais um minuto?
Não agora, talvez quando o tempo for escasso e quando as chances forem quase nenhuma. É sempre assim.
Agora eu vou embora, junto com a incômoda poeira que o tempo juntou, e que agora levou.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Maio

Os dias já ficam mais curtos, um arrepio de frio percorre meu corpo.
Só me resta o gelo agora?
Se sim, quero ficar aqui, no gelo, pois tudo é mais amplo e consigo respirar melhor.
Silencioso, branco em vários tons.
E agora, só o gelo que me resta?
Preciso novamente ter o rosto coberto pelo pó da estrada?
Não sei.
Sei dos dias cinzas, apenas.
Mais uma sequência infindável de dias cinzas e frios, de fria garoa.
E, uma ponta de brasa ainda teima em enfrentar o frio terrível e a escuridão.
É maio.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Abril

Vejo o quanto rompes, abrindo passagens, cortas como navalha o tecido grosso que separa o perto do longe, o central do periférico.
Eu te dei mãos fortes e canivete com fio gasto, para que não me mates, para que não me firas.
Agora resta-me apenas as minhas mãos trêmulas que anseiam pelos calos que logo terás, pela dureza de tuas mãos prestes a perder a suavidade e a delicadeza.
Não te quero assim, cortando o tecido fino e tênue que para sempre, para sempre, separará você de mim.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Aves de Predação, Divindades do Sentimento

Aves de Predação, Divindades do Sentimento

Entre aquilo que imaginamos e a realidade existe um abismo imenso separando. De certo modo isso até que é bom.
Sabia que ficaria terrivelmente encabulado ao te ver, mas não imaginava que seria tanto. Ainda bem... Ainda bem...
Disso tudo posso dizer apenas umas duas palavras:
Deixo tudo com o tempo, ele que resolva tudo aquilo que não consigo dar conta;
Outra coisa tem a ver com ela, quanto mais eu a vejo, mais tenho certeza que sou incapaz de traí-la, e isso faz com que eu me sinta muito bem, se não dá pra traí-la, tanto melhor (deixemos tudo com o tempo, ele que resolva);
Enfim, cabe a mim apenas cuidar da minha vida, minhas obrigações e demandas. Talvez sonhar um pouco menos de olhos abertos, talvez sonhar um pouco mais.
O resto: os ganhos e as perdas, eu deixo com o tempo. Que ele me recompense ou me dê a punição por tudo que eu faço ou que eu não faço (de bom ou de mau) hoje.
Sempre tive certeza que ficaria tímido diante de você, mas não estava no meu escript que seria tanto!

(Quarta-feira, Setembro 03, 2008)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Para pisar nos céus

Asas, limites, falta de limites, pés intocados, pés que não temam pisar na lama ou nos espinhos, vestes de puro linho, um pouco de fé e muito de imaginação, asas, muito pequenas para voar e grandes o suficiente para planar, para aproveitar as correntes mornas como fazem os albatrozes, asas, cabeça que não sabe diferenciar o alto e o baixo, cabeça firme e resoluta.
Asas, livrando-se de todo o peso desnecessário, assim vou, sentindo a falta de firmeza que existe no céu em que você pisa, pensamentos meus impuros me fazem sentir bem próximo da queda, mas uma mão invisível insiste em me aprumar e eu vou, sem bater asas, apenas tentando pisar.
Asas, ausência de limites, todos eles muito bem demarcado e, lá embaixo, todo o peso que nunca vai subir, que nunca me permitiria subir.
Apenas vontade de sentir a densidade do céu em que você pisa.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A primeira onda

Quase esqueço o que é, mas não esqueço.
Como poderia?
Sei exatamente de cada passo, decorei os movimentos do caleidoscópio,
Sei exatamente como cada raio de luz sofre a difração nesse prisma
Mesmo assim ele me encanta.
Tenho todas as respostas possíveis para todas as perguntas que ainda não foram feitas, todas são suficientemente boas, mas nenhuma passa nem perto daquela que parece assumir a posição de verdade.
Por fim, vi você: o que é e como é.
E isso fez com que eu viajasse no tempo...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Elegância

Às vezes é necessário apenas uma palavra, apenas um gesto para que a gente possa encontrar toda a significação que procura.
Palavras soltas me intrigam, perguntas feitas de forma enigmática me intrigam da mesma forma.
No mais, gosto de ver o humano naquilo que é humano. Aparente miséria e doçura, com voz calma e pausada.
O humano no humano, para me ver para me reconhecer, como alguma coisa, como algo que seja um pouco mais que um animalzinho cercado e ávido por tralhas tecnológicas.
Queria que aquela única palavra escrita fosse justamente para mim. Queria que ela tivesse todo o peso da resposta que busco, queria que ela fosse cheia de significados. Voltar pra você, seus braços, assim como todo seu corpo que eu desejo, se abririam para mim?
Aqui estou, voltei...
Além do que não ficou, existe alguma coisa?
Ela apertou minha mão muito forte. Naquele momento não me senti nem só, nem abandonado, nem incômodo. Me senti forte.
Senti que poderia ampará-la numa caminhada que durasse séculos, apenas por ampará-la, sem nenhuma intenção oculta.
E, na mais fria das noites frias, uma palavra, que eu queria que fosse pra mim, veio direta como uma flexa.
Agora, novamente estou aqui!

"I want to catch something that I might be ashamed of"(frankly, Mr Shankly