terça-feira, 26 de junho de 2012

Leitura

Preciso de um ledor. Um ledor para ler as minhas aventuras imaginárias.
Não preciso de leitor nem de leituras. É uma outra coisa!
Um ledor nunca compreenderá um: "mon cher, comment ça va?"
Um ledor sofre até para decifrar um letreiro de ônibus, seja pelo analfabetismo, pela pouca visão ou pela quase total cegueira.
Mas, o ledor me diz coisas que eu preciso ouvir. Coisas simplórias, mas necessárias. Ele lê o mundo na sua pouca instrução, na sua obviedade. Obviedade que deixamos de enxergar.
Preciso de um ledor para ler frases feitas, bobagens do senso-comum, para crer em superstições e temores religiosos.
Deixei de ser ledor, não me tornei um bom leitor.
Azar o meu: já não sei interpretar o mundo nem mais de uma forma e nem de outra.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Aos crentes no amor e na morte

(título inspirado em obra de Alphonsus de Guimaraens)

Quando eu costumava crer, acreditava que deveria pedir perdão. Sim, havia muito de que pedir perdão. Atos, ações, pensamentos, tudo em desacordo com Deus e perfeitamente de acordo com o meu tempo, no qual tudo é um produto, tudo está exposto e tudo está à venda.
Também tentavam me enfiar na cabeça que havia uma salvação, caminho para uma vida eterna. Nunca concebi nada perene, exceto o céu. Mas, aprendi que até as estrelas morrem. Então nada é eterno.
Salvação?
Pensava do que seria salvo.
Diziam que há uma danação eterna.
Pensava naqueles que vivem a danação efêmera na Terra e, como prêmio, ganhariam uma danação full-time (para todo o sempre, amém!).
Seria justo?
É fácil ser crente, como é fácil ser descrente.
Mas, há tantas perguntas sem respostas que é preferível jogar para um ente maior o peso da nossa infinita ignorância.
Hoje só sei de uma coisa: se faço e me arrependo, sei que o que fiz teve consequências próprias. Não há uma caderneta que me será apresentada quando eu partir dessa vida.
E isso torna a vida um pouco mais...

terça-feira, 12 de junho de 2012

não mais

Tudo dito, tudo falado. Bom mesmo é o silêncio, é vagar por ruas estranhas, é encontrar uma feira e comer um pastel. É ter sorte para encontrar um bom pastel.
Árvores fortes tornam-se frágeis, esperam por um vento que as derrube. Eu olho para essa árvore forte e temo por mim, pelo que será de mim quando essa árvore tombar. Mas, aprendi a ter esse dia como certo.
Talvez isto que seja envelhecer: ter como certo que os maus dias virão, esperá-los e temê-los.
Enquanto isso vagueio pelo mundo. À espera de um olhar, de um sorriso, de qualquer coisa sincera e não corrompida. Talvez, eu encontre (é quase certo que não).
Ainda assim, me sentarei à sombra dessa árvore. Antes que nada mais reste.