segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Geometrida

Há uma crítica sobre a falsidade da palavra escrita, ela é pensada, ponderada, nunca é o pensamento em estado bruto.
Nunca será verdadeira, nunca será sincera.
A Filosofia pretende pensar sobre o pensamento, mas, na verdade, escreve infinitas linhas sobre palavras que foram escritas anteriormente.
Palavras que foram ponderadas, deturpadas, copiadas, refutadas etc.
Um dia talvez, com Sócrates e outras pessoas que apenas se deram ao trabalho de pensar e comunicar, a Filosofia teve alguma coisa de verdadeira.
Hoje ela é só palavras sobre palavras, discursos construídos em cima de discursos.
É sincera? É verdadeira?

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Maya

Maya é o demônio que constrói casulos e teias. Semelhante a uma aranha, Maya tenta esconder o mundo real, tenta manter o mundo real encoberto por suas camadas de teia.
O mundo encoberto de Maya é confortável, nele não há dor. Não é preciso agir, pelo contrário, a inação é que se torna necessária, para não romper as finas camadas de teia e se desvencilhar do sufocante, porém agradável casulo.
Escapar do casulo de Maya sempre significará uma escolha errada, difícil e dura, pois significa a negação e não significa negar o que é ruim, ao contrário, significa negar o que é bom, o que falsamente nos protege.
O mundo de hoje é o mundo de Maya.

(talvez o mundo, desde quando o homem começou a produzir cultura, seja o mundo de Maya)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

retentiva

Volta sempre, paira e ronda por aí.
Sempre quando eu estou mais fraco. Apaga a realidade e me joga num mundo difuso.
E eu sempre tenho medo. Porquê eu sempre tenho medo de você?
Misturo orações quando você chega, repito infinitamente Pais-Nossos.
A luz treme quando você chega, o som dos zumbidos aumenta de forma enlouquecedora.
Porquê você nunca me deixa definitivamente? Porquê nunca me esquece?
Quem jogou sua maldição em cima de mim?
O tempo passa, ninguém vem.
Por favor vá e suma para sempre.
Já não aguento mais, não sou mais aquele menino. Não percebe isso?
Já não tenho mais reação diante de você, apenas rezo e espero que você se vá para sempre.

Agosto, mês do cachorro louco, e o diabo a rondar o meu refúgio.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Distal/Proximal

Sem veias, sem sangue, sem sirenes nem acidentes.
Metonímias para representar o meu lugar e o seu lugar.
Conheci alguém com o mesmo raro sobrenome dela, que frequenta agora as mesmas salas que ela frequentou há dez anos, que levou até o fim algo que ela deixou pelo caminho, algo que ela abandonou.
Mas, agora eu não passo mais por aquele lugar também. Lá não faz mais parte dos meus dias atuais. O prédio, a grama e as sombras já contam outras histórias.
Ela se foi 2007, 2010, 2012.
O tempo passa para nós dois, nada fica.
Fica apenas o gosto de nada na boca, os enredos de novelas, as notícias sangrentas dos telejornais.
Gostaria de dizer que amo, mas não mais reconheço a coisa vermelha que corre em minhas veias. É suja? É podre? É viva?
Não sei, sei apenas que é vermelha, muito escura, quase preta e corre quente.
Meu lugar, seu lugar.
O mundo cada vez mais largado, tudo sujo, pichado e descascado.
Mofo e fungos nas paredes, emparedados.
Um espírito do frio e da umidade ronda, está sempre por perto. Destruindo a cada dia o pouco de esperança que ainda resta.
O raro sobrenome dela. Lembra tempestade e relâmpago. Luz intensa e rápida rasgando a escuridão.
O raro sobrenome dela, que se foi, deixou apenas a chuva fina, o frio e o relento.