sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

estrela polar

Alma pitagorica, transmuta, vagueia
Lua de Sao Jorge no céu se despediu de mim, no calor de 30 graus do Brasil
Estrela polar solitaria me acompanhou ao cruzar os céus iluminados das grandes cidades do Norte
A Lua de Sao Jorge, ironica, me saudou com os menos 7 graus da chegada, num frio fim de madrugada
E vejo, e agora pude perceber, que tudo o que é meu nao esta nem aqui nem la,
Nao me espera para o jantar e nem para poder dormir
Mas sera que sonha comigo... Impossivel saber.
Tudo o que é meu, longe de mim
Seja aqui ou la,
Mas aqui a dor da distancia parece nao incomodar,
Agora descobri... Distancia doi menos que indiferenca.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mario e Giuli (texto de Maiuni, setembro de 2008)

Não me lembro se já postei este texto, mas sei que gosto muito dele.

* * *

Eles se encontraram na vida de forma interessante. Falaram sem se olhar.
Depois foram se apresentando, foram se conhecendo, foram se interessando.
Demorou algum tempo para que pudessem se tocar, nenhum tinha coragem de tocar o outro, ambos renunciavam às ilusões.
Os dois insistiam em, no momento em que chegavam em casa, olhar insistentemente para o espelho, procurando rugas, espinhas e alguns outros defeitos. Procuravam qualquer coisa, qualquer sinal evidente que os fizessem parecer ridículos e que dessem a eles os motivos necessários para assassinarem a paixão que queria nascer.
Mas não tinha jeito: cada vez que eles se viam a vontade de estar mais e mais próximos era incontrolável. Os dois se sentiam como dois idiotas quando um estava diante do outro, só sabiam rir, só sabiam soltar frases muito tolas e alegres.
Cada um se sentia a pessoa mais idiota do mundo, era como se o fingimento praticado tantas vezes na vida não funcionasse para eles dois, e olhe que os dois já eram pessoas razoavelmente experientes. Mas os dois queriam muito sempre estar perto um do outro, sempre se sentirem idiotas e sem palavras um do lado do outro.
E eles sabiam, e lidavam com isso da forma mais honesta possível, que um dia um não daria mais motivos para o outro rir, que os pequenos defeitos se tornariam insuportáveis com o tempo, que um trairia o outro e não teria coragem pra confessar.
E eles sempre falavam sobre isso, sobre o dia do desencontro, quando cada qual iria para um lado, faziam conjecturas: com traição, sem traição, com um outro parceiro, sozinho, com dramalhão, com brigas e baixarias para a delícia da vizinhança faminta de escândalos.
E no final os dois se abraçavam, com muita força.
Pacientemente esperavam pelo fim, pelo fim de algo que já nasce pra morrer, como se tivesse uma data de validade marcada em algum canto impossível de se ler.
Será que tudo se acaba amanhã? Daqui a um ano? Quando estivermos velhos ou quando morrermos?
Eles apenas se abraçam, sabem que tudo terá um fim um dia. Mas pouco se importam com isso.
Parece que a vida acertou ao juntá-los.

* * *
That summer fields grew high with foxglove stalks and ivy.
Wild apple blossoms everywhere.
Emerald green like none I have seen apart from dreams that escape me.
There was no girl as warm as you.

That summer fields grow high.
We had wildflower fever. We had to lay down where they grow.
How I've learned to hide, how I've locked inside, you'd be surprised if shown.
But you'll never, you'll never know...

(Stockton Gala Days)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Inccidia

O primeiro sonho que tive com você foi mais real do que vários acontecimentos, estávamos conversando em uma escadaria, não era um assunto muito bom, mas ao menos conseguíamos sorrir, ao menos tínhamos motivos para sair.
Depois vieram outros sonhos e mais outros, sonhos recorrentes e devaneios, em inglês existem palavras ótimas para definir esses sonhos (restless dreams, daydreaming etc).
Até minha realidade se torna difusa quando o assunto é você: você é a página arrancada do livro (justamente aquela página que é vital para a compreensão da história), você é a variável que falta para a equação ser resolvida, você é a palavra que é a coisa (você é a palavra que salta do puro conceito para a realidade).
Vivo preso no mundo das palavras, mas as palavras sozinhas não são mais do que palavras.
Não existem palavras mágicas: repetir um bilhão de vezes seu nome ou escrevê-lo infinitamente nunca fará com que a palavra tome a sua forma. Você é o que eu quero saber, seu nome é tudo o que tenho.
Não existem palavras mágicas. Hocus pocus nunca te trarão até mim.
Sonhos são bonitos, neles podemos ser, não há contradição, não há censura e eles sempre voltam, sejam os bons ou os ruins.
Poderia recortar seu nome em milhões de papéizinhos coloridos e fazer em cada qual uma prece, mas nem isso traria você pra mim.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Eccidia

Nos perdemos no meio do tempo porque nós o inventamos.
Dias, semanas, meses, anos e estações. Reduzimos os ciclos à insignificância do relógio e do calendário.
"Os dias passam rápido, as estações não são mais as mesmas!" Dizemos isso estupefatos, como se em algum tempo o dia ou as estações tivessem correspondido às nossas sensações.
Senti muito frio no tempo do frio, mas também já senti frio no meio do verão, assim como sinto calor insuportável nos dias ensolarados e secos do outono e do inverno.
O calendário se move muito rápido nos nossos dias cheios de imagens e vazios de descobertas. Nos tempos de escola o dia era infinito, ocupá-lo era uma tarefa que demandava muita criatividade, que nos enchia de tédio.
Hoje os dias são medidos no que sobra entre pagamento de contas, espera de feriados e, com alguma sorte, a espera de alguma data pra comemorar.
O infinitamente longo e prazeroso foi substituido pelo infinitamente rápido e repetitivo.
E agora aquela pergunta: o melhor ficou no passado ou o melhor ainda está por vir?
Entre o tédio e a esperança não vivo, fico preso em um-entre.
No passado não ficou o melhor, disso eu tenho certeza, no amanhã eu não faço nenhuma aposta.
Queria viver o eterno hoje de um animal que simplesmente vive, que não produz nem cultura e nem história, e que nunca viverá preso nesse entre.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A bela alma de Charing Cross

Anjos e demônios causavam desastres em sua cabeça. Anjos demoníacos, demoníacos desastres.
Anjos e demônios faziam com que ela passasse as noites lendo, buscando respostas para não dormir, para não fechar os olhos.
"Só sou feliz quando sonho!"
Não queria ser feliz sonhando. Aliás, não queria mais sonhar.
A vida era feita de atividades simples: tirar e colocar o vestido, tocar algumas músicas no piano, cuidar de suas flores, ler calmamente Stendhal, ir ao mercado, ler o semanário.
Mas existiam os anjos e o demônios, que traziam a felicidade, impossível neste mundo, para os seus sonhos.
E ela passava as noites lendo, com velas acesas no quarto para afastar os anjos e os demônios de sua cama.
O suor encharcava sua camisola, como se a febre noturna de um tísico se apossasse de seu corpo.
Lá fora, nas ruas, homens sem reputação caminhavam na madrugada, debaixo da neblina espessa, à busca de prostitutas famintas.
Os demônios que fossem passear lá, com esses homens!
E os anjos também! Que pousassem sua espada pesada de culpa sobre esses pecadores!
E os primeiros raios de sol começavam a brilhar ao longe, dando fim a mais uma noite de desespero. Trazendo para ela a segurança tranquila de mais um dia de sua rotina.
Livre dos anjos, livre dos demônios.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Objetos QUAse eStelARes

Sei que dormirei no relento, numa rodoviária qualquer, enquanto esperarei o primeiro ônibus que me levará para os campos nos quais você vagueia.
Na minha mochila pesada carregarei sonhos que não se desvaneceram, mas têm todo o peso da responsabilidade de não perder a única (última!) chance da vida (desta vida!).
No monitor de tevê da rodoviária passará um filme de romance açucarado, depois passará um filme de guerra dos anos 60, depois passarão desenhos no meio da madrugada.
Sentirei frio, sei que sentirei muito frio.
Quando eu chegar, com os olhos te farei um pedido, que será feito por outra pessoa, que te suplicará, em meu nome: "Deixe-o entrar!"
Sei que você relutará, que sentirá ódio de mim por eu ter feito você odiar a si própria. Mas, deixe-me entrar!
É tudo que quero, é tudo que pedirei. Mesmo que tudo o que eu faça seja virar as costas e sumir, para sempre de sua vida, no instante seguinte.
Sei que dormirei numa rodoviária fria, vendo romances se desenrolarem na tela e sonhando com o momento em que você me dirá: "Entre!"

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Maiuni (texto 1)

Chove. Todas as lágrimas que já secaram em mim, há muito tempo, são derramadas pelas nuvens.
Alento, único presente que a vida deu pra mim, o céu pesado, carregado, os pingos de chuva.
O que há, além do egoísmo, nessa vida?

(SP, 16/11/10)

* * *

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

você densa, você substancial

Vamos agora complicar um pouco mais as coisas!
Você é alguém, isso é claro! Como e porquê você me afeta e me atrai é o grande mistério para mim.
Vejo você, você tem forma, peso, altura, traços característicos, emite sons etc. Mas, como pode isso ser atraente, se todas as pessoas fazem isso o tempo todo e quase nenhuma delas me afeta?
Talvez, por ser um corpo, exista em você vetores que exerçam certo poder de atração sobre mim. Sim, talvez seja isso: um jogo de atração e repulsa cujo o qual eu sou incapaz de exercer controle.
Vetores, linhas de força e de fraqueza, pontos de clivagem e de fraturas; poder de atração e repulsa, magnetismo.
Mas, pouco sei de você densa, de sua densidade.
Isso pra mim é um mistério e só sou capaz de conjecturar sobre aquilo que não sei: o simples ver nada revela.
Agora, existe também o mais misterioso que é você substancial.
Nada sei sobre sua substância, sobre o que ela guarda ou o que me atrai nela.
E se sua substância for a minha negação? E se for o meu duplo?
Como posso ter a mínima idéia do que seja, de qual seja a sua substância nesses tempos tão artificiais em que vivemos?
Nem dou conta de respostas sobre a minha própria substância, daquilo que substancialmente eu seja. Imagine fazer lucubrações sobre a sua.
É apenas injusto de minha parte deixar tudo o que eu imagino fora de seu conhecimento.
É tudo tão louco e fora de sentido, tão insensato que eu acho que seria capaz de te divertir por alguns momentos.
Mas, em breve, você saberá de tudo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Considerações acerca do atropelamento de um cão

São Paulo, quarta-feira de sol. Avenida Ipiranga, de um lado o velho hotel Hilton, do outro lado o Copan, dois pontos de referência da cidade, dois ícones do Centro Velho que guardam o glamour de décadas passadas.
Tudo tranquilo, vejo uma mulher que para no semáforo para aguardar o sinal fechar e ela poder atravessar na faixa.
O trânsito é intenso, motos, ônibus e carro disputam todo e qualquer milímetro para tentar uma ultrapassagem arriscada.
São pouco mais de 10 horas da manhã, a cidade apressada ainda desperta com alguma preguiça.
A mulher aguarda o farol abrir acompanhada de um cãozinho que me chama a atenção. É um bulldog todo preto, ainda novinho, orelhas apontadas e boca bem larga. A aparência do cão (bem feinho na minha opinião) faz com que eu me distraia olhando para aquela cena. O cão parece um pequeno diabo-da-tasmânia e está parado ao lado de sua jovem dona, que conversa com um transeunte.
Mas, em menos de um segundo o cão atravessa a avenida em disparada, talvez atraído pelos cães que passam do outro lado. É o segundo necessário para o pequeno cão ser atropelado.
Isso me trouxe uma frase interessante: Quem imagina que um cão tem algum juízo, certamente tem menos juízo do que um cão.
Estamos vivendo um período de imbecilização das pessoas. As pessoas cada vez mais colocam valores antrópicos em seus animais de estimação: amor, juízo, intuição, percepção e tantas outras bobagens. Tudo estimulado por uma literatura, um cinema e uma mídia de quinta categoria, que faz com que as pessoas imaginem que um cão ou um gato são dotados de características que eles absoltuamente não têm!
A principal é o juízo!
Isso foi um caso clássico de displicência da dona do cão, que julgou que o cão se manteria ao seu lado até o momento de atravessar a rua. Claro, é uma dedução trivial! Trivial quando vinda de um ser humano!
O cão, atraído pelo que estava do outro lado da rua não fez nenhum julgamento antes de bater em disparada para o outro lado!
O comportamento é comum dos animais: a falta de medo! Ele queria estar do outro lado, pouco importa se dezenas de carros passavam apressados pela avenida.
O homem, já possui este medo, pois ele faz parte do nosso juízo! Nós aprendemos à antever todas as possibilidades antes da execução de um ato! Nós julgamos, e se o risco for maior do que a recompensa, nós desistimos.
Parece ser simples, mas o juízo se constrói ao longo da vida.
Algo que reparo bastante é que mães e pais acham que seus filhos bem pequenos já são dotados de juízo. Deixam eles livres próximos de vãos do metrô e dos trens, em pontos de ônibus muito movimentados e outros locais arriscados. E não é necessário mais do que um segundo para que alguma tragédia aconteça.
Mas, no caso do ser humano, após os 3 anos, uma criança já é capaz de avaliar o risco de um ato impulsivo. Não é preciso ela ver outra criança atropelada para ela saber que um carro pode matá-la.
Mas, com um cão não é assim.
E aquela jovem, que estava com a guia de seu pequeno cão na mão, deve ter se arrependido muito de não encoleirá-lo ou pegá-lo nos braços para poder atravessar a perigosa avenida.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

álea, luna

Faço teceduras, tramas, urdiduras, desenhos e variadas cores
Anulo a minha presença e anelo a tua
Sou um monte de pedaços espalhados em busca de uma solução
Para o meu enigma, para o meu quebra-cabeças
Espero a junção dos corpos, a próxima conjunção dos corpos
Desenho, faço rabiscos, imagino e imagino mais
E eu tanto sei de mim, que quero te dizer que sei
Que com o maior prazer eu gosto de dizer "não sei"
Não sei de nós dois, não sei de amanhã
Só sei que a imagem se apaga na memória, as luzes ficam mais fraca
Já não me lembro mais dos calendários 2006, '07, '08
Só sei que tramo, que teço, que me inspiro
Escrevi uma história, não sei se você gostaria de ler
Tinha o seu nome nela, não sei se você gostaria de ver
Era uma história sobre você, não sei se um dia você gostaria de conhecer

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

subida aos céus (Lily Belle May June)

Fico feliz por ter concluído mais esse projeto. Se existo, existo apenas por um motivo: para contradizer tudo. Para fazer tudo diferente e de um outro jeito. Eu vivo, eu sou, eu faço!
Deixo aqui, novamente, o que tenho de melhor em mim. O meu melhor é de todos vocês e, principalmente, é seu!

Lily Belle May June (LBMJ)

LBMJ

Ambiciones posibles volan libres
atravesan calles, jugan se delante de los coches
pierden la hora e los encuentros

Ambiciones posibles parecen ser regidas por el cielo
por un océano de coincidencias
que existen apenas porque damos importancia a ellas

Ambiciones posibles pasan por el total desaire por la vida
y por la esperanza en encuentros casuales
acabando se siempre en horas de soledad

ambiciones posibles caminan solas en dias lluviosos,
senten miedo de la muerte en el medio de la madrugada
y saen sin abrigo en los dias de invierno

Ambiciones posibles mostran la tristeza en todo:
en la risa de los payasos,
en el primero dia de un niño en la escuela
y en el silencio de un cuarto de hospital

Ambiciones posibles volan libres
parten para muy lejos
y nunca, nunca volven iguales.

( Gustavo Alcoforado)

*Obs.: Qualquer comentário ou correção, por favor me escrevam

recém-liberto

Sexta-feira tive um encontro interessante, um desses encontros interessantes que de vez em quando a vida me possibilita.
Era um homem, um rapaz, comum.
Seu nome era Renato (primeiro fato irônico: perder a liberdade e recuperar = viver de novo). Renato, aquele que nasceu de novo.
Ele era um rapaz franzino e tinha todos os requisitos que um jovem tem para ir preso: morador da periferia, pardo e com o sobrenome Da Silva.
Tinha um sorriso juvenil estampado no rosto, que contrastava com o relato dos horrores presenciados no seu período de reclusão.
Nove meses (segunda ironia), Renato estivera nove meses recluso.
Se ele tinha culpa, não perguntei (isso não me interessava!). Mas, provavelmente sim.
Afinal ele era apenas mais um Renato da Silva, com mãe, com mulher e com filho que vive numa cidade na qual quem manda é o dinheiro. Na qual tudo é consumo, é poder, é luxo.
Renato me mostrou as fotos de seu filho e a pilha de cartas que recebera na prisão. Seu único tesouro, a única coisa, além da roupa do corpo, que ele trouxe daquele lugar.
E eu pensei na minha vida, pensei no quanto foi bom nunca colocar a minha liberdade em risco, nunca ter corrido o risco de seguir a lei do mais forte dentro de uma prisão.
E olhei para as luzes da cidade, pensei em todas as desigualdades.
Segui meu caminho e Renato seguiu o dele, infinitamente feliz por recuperar algo que perdeu.
Infelizmente eu não soube quantificar a sua felicidade, pois não sei qual é a sensação de recuperar aquilo que eu nunca perdi.
E Renato seguiu seu caminho.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Para não esquecer!

Apenas um tipo de pessoas me assusta: são aquelas que parecem agir totalmente desprovidas de paixão.

(pra não esquecer, nunca.)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A intencionalidade

"I wish her safe from harm
To find yourself in a foreign land
Another refugee outsider refugee"

(the people that we love)

Eu sempre soube o que você queria, saquei desde o início!
Você veio até mim por ter tempo de sobra, pela solidão nesse tempo livre e por medo do que poderia acontecer com você.
Foi fácil descobrir, foi fácil ler suas intenções.
Enquanto eu quis, brinquei com você de ser usado. Brinquei de ser brinquedo em sua mão, embora me entediasse muito, pois você não era tão boa assim para criar jogos que me excitassem.
Sou um gato velho, não me interessa mais correr atrás dos novelos. Quero apenas comida, água, sexo e, muito de vez em quando, algum carinho.
E você nunca se deu conta disso.
Você pergunta demais, e eu nunca faço perguntas irrelevantes a mim mesmo.
Você pergunta demais, pergunta coisas sem importância, acha que faz grandes descobertas quando analisa as pistas (falsas) óbvias que eu deixo espalhadas pelo caminho.
No fim, tudo deu certo.
Você fez o seu uso, me descartou.
Me deixou em paz, me deu um descanso, me livrou das suas perguntas.
Você pergunta demais e eu pouco me importo em dar respostas satisfatórias a mim mesmo.

sábado, 16 de outubro de 2010

La Malinconia (para Glória)

Sexta-feira à tarde, chove em São Paulo.
Choveu em São Paulo, é a senha para a cidade travar.
Tomei chuva na Lapa desde as 4 horas da tarde, chuva forte. Com muita sorte não adoecerei.
Fui para o ponto esperar o 278A em direção da Penha. Trajeto Penha-Lapa, antigo trajeto na vida dos paulistanos.
Não estou com muita sorte, o ponto de ônibus está todo destelhado e o calçamento está todo quebrado: a pracinha na Rua Clécia com a Crasso está em obras!
E tome chuva!
Chega o 278A, viagem interminável, horas e mais horas. Quando entramos na marginal Tietê eu perdi a paciência, mais de uma hora entre a Ponte Cruzeiro do Sul e a Ponte da Vila Guilherme. Decidi descer.
Caminho pelas ruas do Pari, minhas ruas velhas conhecidas. Vou até o ponto descoberto aonde passa o 271P, Estação da Luz-Cangaíba.
Espero ter sorte pra chegar em casa em pouco tempo, tomar um banho quente e comer alguma coisa. Estou morrendo de fome!
E a chuva forte não dá um tempo! Chove forte das 4h00 até as 18h00, sem pausa.
Pergunto a uma moça se faz tempo que ela está esperando o ônibus, ela responde que espera há mais ou menos meia hora.
No ponto as pessoas desistem, uma a uma desistem. O ponto é descoberto, apenas eu e ela resistimos à espera, tomando muita chuva.
Na espera começamos a conversar, sobre o ônibus que não chega, sobre as chuvas em SP, sobre itinerários possíveis para economizar tempo.
Ela é bonita. Tudo nela é bonito.
Seu rosto é formado por proporções harmônicas, seu corpo é bem feito e suas formas chamam a atenção. Ela se veste muito bem, sem exageros, sem cafonices e sem badulaques.
Esperamos ainda mais meia hora debaixo de chuva, conversando sobre coisas várias sem muita importância, apenas para aproveitar a ocasião.
Depois de muita espera chega o ônibus. Eu e ela subimos: ensopados, cansados e famintos.
Na proximidade eu pude falar olhando diretamente para ela e admirando o formato de sua boca, o arranjo perfeito de seus dentes, o seu nariz, os seus olhos.
Tudo perfeito, tudo harmônico.
Mas, o homem racional dentro de mim atentou para a simplicidade daquela garota. Ela falava frases curtas e repetia muito a si mesma.
Limitação, falta de convicções? Não sei, mas não levei a sério o homem racional que vive em mim. Passei a escutá-la.
Mesmo simples assim, ela me falou que tinha apenas 17 anos, e que vivia por conta própria, trabalhando para se sustentar, desde os 16.
E ela parecia ser tão frágil e tão facilmente enganável. Mas também deixava transparecer uma boa alma.
O que teria acontecido com ela? O que será dela nessa vida?
Ela falou de seus sonhos, falou que tinha largado a escola no segundo ano do médio, mas que queria retornar o quanto antes para poder estudar veterinária.
Mais uma vez, o maldito homem racional que vive em mim julgou aquela alma: veterinária, não acho que você tenha a mínima chance!
Mas, eu continuei a ouví-la. A ver ela gesticular enquanto falava.
Seu nome: Glória!
Sim, ela era uma Glória! Um monumento à proporção entre as formas e à beleza, um monumento ainda infantil, embora viva em uma relação conjugal desde os dezesseis anos.
Mesmo quando reclama da dureza da vida ela mostra uma felicidade juvenil, uma esperança qualquer num amanhã.
Tive que descer bem antes dela, a chuva já havia passado, o trânsito fluíra, bem devagar, mas fluíra.
Ao sair, olhei pela última vez para ela e percebi que ela, envergonhada, também olhara para mim. Deixando que eu visse aquele rosto lindo pela última vez.
Há encontros que acontecem apenas muma única vez na vida.
Mas eu fico contente de um dia ter encontrado a Glória.
Já não chovia mais em São Paulo, eram nove horas da noite, cheguei em casa muito cansado.

(para Glória)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

l'Angoscia

Não me peça para ficar, também não me mande embora.
Eu sei a hora. Eu sempre sei qual é a hora.
Eu vou sim, eu já fui. Portanto, não me peça pra ficar!
Não é mais você ou ela, não são mais todas as tramas maquinadas, não é mais nada.
Não imagine que vou ficar mais tempo tentando decifrar códigos que não têm significado nenhum. Não me interessam mais seus códigos.
Eu já fui, eu já saí. Só o que restou de mim foi minha mão na porta: a última parte de mim que ainda esperava ouvir um "volta!".
E você nem me fez aquela pergunta simples.
E você nem esboçou aquela frase tola.
Eu saí, sem adeus, sem sorrisos, sem nada.
Ela não me disse nunca mais.
Você não me disse pra ficar.
E eu já não quero mais. Ficar assim, perdido.
Minha mão, meus dedos girando lentamente a maçaneta da porta enquanto não se ouve um "entra" ou um "espera um pouco". Nada!
Ela não me disse nada, não me insultou e nem se insinuou.
Você manteve aquele silêncio covarde.
Atrás de mim a porta bateu, o barulho fez eco.
E você manteve o seu silêncio covarde.
E ela, que um dia me olhou nos olhos, hoje é só uma nódoa embaçada na minha memória.

sábado, 2 de outubro de 2010

Responsabilidade Moral

Eu não estava presente quando você prendeu seus cabelos muito bem presos para o seu grande momento.
Eu não senti o seu coração disparar e nem suas pernas tremerem.
Eu não pude perceber que você sentiu tonturas e um pouco de dor de barriga enquanto o grande momento se aproximava.
E, quando tudo o que você sentia era uma grande vontade de fugir correndo daquele lugar, eu não pude te abraçar e te dizer: "tudo bem! Aconteça o que acontecer, eu vou te amar do mesmo jeito."
Eu não pude ser complacente com o seu fracasso e nem exultante com a sua glória, com o seu momento principal.
Eu não estava presente.
A não ser em pensamentos.
A não ser em palavras.
A não ser...
Que eu sempre estivesse lá!
Quando você prendia os seus cabelos e desejava ficar parecida com uma princesa, eram os meus olhos que os seus olhos procuravam na imensidão.
E quando seu coração acelerava e suas pernas tremiam, era com a sensação distante do meu abraço que a sua mente te levava pra um lugar tranquilo.
E quando a tontura e a dor de barriga te atormentavam antes do grande momento, era comigo na mente que você se concentrava para não errar. Era pra que eu não me envergonhasse de você que você não errava o menor gesto.
E quando tudo o que você queria era fugir daquele lugar, era a minha voz que você ouvia, dizendo bem baixinho no seu ouvido: "tudo bem! Aconteça o que acontecer, eu vou te amar do mesmo jeito."
E todo o barulho do momento era quebrado por esse sussurro.
E, no meio de cada movimento, você procurava com os olhos a minha silhueta por todos os cantos, mesmo sabendo que eu não estava lá.
E você sabia que meus braços estariam sempre abertos para você, seja para que você se escondesse do mundo depois do seu fracasso, seja pra receber seu sorriso de felicidade e a sua glória pessoal.
E eu estava lá!
Com todos os meus pensamentos.
Com todas as minhas palavras.
A não ser...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Princípio da Incerteza

Acendo as luzes que me apontam para a escuridão.
Que mar é esse no qual eu me jogo sem me preocupar com as pedras que me cortam e os perigos que me cercam?
Que olhar é esse que para mim parace tão cheio de significados, mas do qual eu não consigo a resposta para a mais simples pergunta?
Quantos verões ainda restarão? E quantos mais outros invernos?
Acendo as luzes que apenas servem para deixar a névoa mais espessa.
Durma, sonhe criança!
Talvez de um dos seus sonhos recorrentes eu tire a resposta da minha dúvida principal, da incerteza que me persegue.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

dois trechos, sensibilidade

"(...) no amor, encontro no outro a negatividade própria ao meu desejo. Eu vejo no outro não a determinação do meu desejo, mas a possibilidade de que ele encontre uma forma para a minha inquietude e minha indeterminação."
(atribuído a Jacques Lacan)

"(...) se ele quer ser 'desejado' ou 'amado' ou ainda 'reconhecido' em seu valor humano, em sua realidade de indivíduo humano [que não é uma realidade de portador da dignidade de certos direitos e características determinadas, mas uma realidade marcada pela falta e pela indeterminação(...)]."
(Alexandre Kojève. Introduction à la lecture de Hegel)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Saint Paul's Cathedral at night

Não há mais doces palavras. Todas elas estão suspensas.
Um vento bateu forte no quintal ao lado do meu, dentes-de-leão voaram como se fossem uma nuvem de mosquitos, mas eram apenas leves dentes-de-leão.
Gostaria que debaixo de cada palavra existisse um significado encoberto, mas elas são cruas como carne fresca e duras como um pedaço de granito.
Os sonhos? Resolveram tirar férias e ausentaram-se de mim.
Vai saber por onde eles estão... Espero que estejam numa bela praia na Samoa Ocidental!
Queria reviver o doce mistério de ontem, a brincadeira de esconder, a fuga dos olhos...
Mas, não há mais olhos para fugirem. (expressão de infinita decepção)
Há apenas dois olhos desemparelhados, ressecados e ardentes pelo ar seco e pela poluição. Queria um pouco de soro fisiológico, apenas para sentir a falsa sensação de chorar, apenas para sentir os olhos lacrimejarem.
Voltando às palavras, queria ter elas nas mãos como carvão e barro, para fazê-las concretas e sentí-las paupáveis e maleáveis.
Doces palavras, açúcar de fruta, cítricas. Amaria sentí-las batendo no meu rosto.
Tudo suspenso.
Não há o que ler. E nem o que se ler.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

releituras

tenho certeza que dá pra viver em São Paulo de forma mais humanizada. ainda é possível encontrar pessoas que gostam de uma prosa, que são gentis.
debaixo das milhões de desculpas, o que se acoberta é a má vontade com o outro, é a incompetência generalizada do brasileiro em dialogar (brasileiros não dialogam, em geral, eles apenas são subservientes e abanam o rabinho pra quem tem mais ou vem de fora e menosprezam quem está socialmente abaixo deles).
pessoas esclarecidas, que cultivam o hábito de conversar, são cada vez mais a exceção. Mas como é bom encontrá-las.
PS.: Ah, psicólogos são pessoas doentes, ainda não conheci um que fosse bom da cabeça. Deus me livre de passar pela mão dessa gente!
boa semana a todos!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O sem fim

O sem fim se abre, tão belo quanto temeroso.
Se tudo acabasse hoje, não sofreria.
O prolongamento da dor é o que me põe medo.
Os mesmos olhos de sempre, pesados como chumbo, querendo passar por dentro de mim.
Por isso caminho passos assim, meio sem direção.
Por isso me acostumei a ficar olhando tudo do meu canto.
Queria ser uma peça à venda, pequena coisa barata, para que alguém me comprasse e botasse dois olhos de alegre curiosidade sobre mim.
Sinto um peso tão grande nos ombros ao cruzar portas que eu abri, más portas, más passagens.
O que vem depois?
Queria que viesse um belo dia de sol.

(SP 4/12/2007)

Lualuar

Não me preocupo, apenas me ocupo em andar e sentir a chuva cair. Num dia assim como este.
A minha cabeça dói um pouco, deveria ter botado um pouco mais de fé que ontem faria um frio intenso e não ter enfrentado todo o frio da tarde com uma camiseta curta e mais nada.
Hoje é um feriado besta e sem sentido: nosso país é independente!
O Brasil, essa ficção, completa 188 anos de independência, daqui a 12 anos será comemorado o bicentenário. Com toda a pompa e circunstância comemoraremos duzentos anos de liberdade!
Mas, há algo interessante que gostaria de dizer: em nenhum outro lugar do mundo existe o termo "luar". É um IDIOTISMO, mas calma, não é uma criação de idiotas, é uma palavra que não significa nada em nenhum outro idioma. Assim como saudade, que só existe em língua portuguesa.
Eu não utilizo luar. Apenas digo lua ou noite enluarada.
O luar seria o brilho da lua? Lua nova, lua cheia?
O luar, alguns dizem luar, a única coisa que eu conheço é aquela música "luar do sertão".
O luar. Aluar. Alumiar.
Acho que a palavra só vale pela riqueza de vocabulário do sertanejo.
Eu não canto ao luar, não farei serenatas ao luar. Caminho apenas debaixo do brilho da lua.
Sete de setembro, chuva, céu encoberto. O sol deu as caras, assim, de leve.
Hoje a lua não vai brilhar no céu.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Às vezes escrevo aqui sobre assuntos variados, às vezes mudo o foco para outros temas, pra outras observações.
Mas, este lugar aqui existe por um motivo claro: é pra ser o lugar no qual eu revivo uma certa noite de janeiro. Uma certa noite quente de janeiro, que aconteceu há alguns anos.
Esse foi o lugar que eu escolhi para contar histórias, pra sonhar.
A vida corre lá fora, ela é intensa, muitas coisas acontecem e tudo permanece o mesmo.
Aqui, ao contrário, como no céu, tudo permanece. A estrela que eu vi uma vez e ainda me fascina continua longe do alcance dos meus dedos, mas hoje brilha mais.
E eu me apaixono cada vez mais por essa estrela: quente-fria, próxima-distante e tão minha (por ser de ninguém).
Este lugar é isso: é meu livro de horas, onde eu conto a espera e vejo a passagem do tempo.
É neste lugar que o medo e a angústia tentam superar o desejo do gozo represado há tanto tempo.
É neste lugar que eu passo a limpo todas as horas, todas as histórias, todos os mapas, os planos.
E busco.
E esta estrela.
Me dará a direção.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

yume

Me perco no limite dessa fantasia.
Outro dia sonhei com você, nua e linda.
Tinha apenas faixas azuis e vermelhas amarradas aos punhos e esmurrava e chutava o ar, dando golpes de karatê no vento enquanto sorria.
É preciso sonhar pra passar um pouco o mal estar deste inverno seco, poluído e quente.

I'm not asking you to give
I want you to take
A moment of truth
Fountain of youth
Princess of elegance
I'm not asking you to give
I want you to take
Your grace and your voice
Weapons of choice
Mistress of innocence


(edge of dawn - elegance)

domingo, 22 de agosto de 2010

A miséria de um super-homem

Hoje, mais do que nunca, percebi porque gosto tanto de falar com as pessoas, de ouvir suas histórias, de conhecer um pouco de suas vidas.
Os homens não são felizes, aos domingos, com alguma sorte, eles têm alguém para alegrar seu dia, se não tiverem tanta sorte sua companhia é a televisão.
De tantas histórias que ouvi, de tantas palavras que escutei, a história de um homem me chamou a atenção.
Um homem, preso no tempo. Velhas fotografias das décadas de 1940, 1950 e 1980 contavam a sua pequena e desinteressante história.
Velhas fotografias de homens simples vestindo terno e chapéu. Fotos de família, muitas pessoas que já não estavam lá.
Um homem sem presente, preso num passado que era de outros, não era a sua história que ele contava, era a história de outros, de outros que já se foram.
E sua vida? Nada?
Por um momento tremi. O que eu estou fazendo de minha vida?
Será que caminho pra ser no futuro um homem sem presente como esse? Será que ficarei aprisionado num passado não vivido? Será que fugirei de meu presente como uma barata foge da luz?
A vida daquele homem cabia numa sacolinha surrada muito antiga.
Um passado surrado.
Uma vida surrada.
Um presente inexistente e solitário.
Eu tremi por um momento. Pra onde vai minha vida?
Eu, que amo quem pouco se importa com meu bem-estar. Eu que faço tanto esperando algo de volta. Eu que espero e coloco no amanhã as ausências e carências do meu hoje.
Pra onde eu estou encaminhando minha vida?
O que estou construindo além de castelos de sonhos?
Eu perdi tempo olhando pra todas aquelas fotografias e ouvindo as histórias desinteressantes do passado daquele homem. Mas, mesmo assim continuei escutando tudo com paciência e sincera atenção.
O que é que um homem constrói em toda a sua vida?
Será que todos não constróem nada como este homem?
E eu, o que eu irei construir? O que estou construindo?
Nada?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

na sala ao lado

Acho ela linda.
Desde a primeira vez que a vi associei sua imagem à da Leelee Sobieski (tenho fetiche pela Leelee Sobieski, assisto até os seus piores filmes só para ver os seus olhos).
Bem, mas ela não tem o corpo de modelo da Leelee Sobieski. Tanto melhor, ela é uma mulher de verdade, que não apela para as plásticas nem para os moderadores de apetite.
E meus olhos sempre cruzam com ela, com os olhos dela e com sua expressão sorridente.
Ontem estivemos na mesma sala, frente a frente mas de lados opostos.
Pude então olhar para ela por horas disfarçada e descaradamente.
As meninas dos meus olhos pulavam de alegria, meu cérebro não processava todo o conhecimento que era despejado na aula. Tanto faz!
Aceito minhas limitações. Já que não posso ser um poço de citações, de referências cruzadas e de deduções certeiras, fico contente em ao menos poder olhar para olhos tão lindos.
Não, com certeza nem eram os olhos azuis da Leelee Sobieski. Eram olhos castanhos, longe da minha tela de led de altíssima definição; perto dos meus olhos míopes e das minhas lentes engorduradas.
Ela é real.
Seu nome? Não sei, não importa!
O que importa é poder olhar, descaradamente e disfarçadamente para aqueles olhos lindos. E, prêmio maior, é saber que ela sente, percebe e que também disfarça.

PS.: Mais importante do que qualquer anotação que fiz ontem, mais interessante que qualquer sacada original feita ontem, lá na sala.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

unGlauber

Porquê as lâmpadas sempre queimam à noite, quando a gente está sozinho no cômodo?
Acho que são elfos brincando com os nossos temores.

***

Sinto de uns tempos pra cá a vida com o peso de toneladas.

***

Um erro de nosso tempo: dizem que somos livres porque temos a liberdade de escolher. Mas que liberdade é essa, na qual temos que escolher entre opções que foram determinadas anteriormente por outros?

***

Se é pra ser igual, então pra quê ser diferente? Taí algo que não entendo.
Prefiro entre os iguais ser diferente, pra não ser aceito nem pelos diferentes e nem pelos iguais.
Te amar é um erro, no qual sempre insistirei. Não porque eu quero, mas sim porque eu não quero que deixe de ser assim, como eu não escolhi que fosse!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Inocente concubina

Atua, não aprendestes ainda a mentir com o sexo. Ainda não atuas!
Com o sexo mente-se assim: mentes pra o outro, mentes pra ti mesma.
Eu sempre minto no sexo. Apenas aprendi a fazer assim: MENTINDO!
Minto pro outro e minto também pra mim mesmo.
Sexo se faz apenas assim? O resto é filme ou é livro do século XIX?
É preciso mentir bem pra derrubar toda a moral construída, pra poder ver que aquilo que entra dentro de você significa o que todas as outras coisas significam: NADA!
Sem filhos, sem promessas de uma vida futura, com um pouco de nojo e muito medo de uma DST.
Atua! Abrace, morda, suspire e trance as pernas nesse outro corpo que nada significa pra você.
Sem a promessa de um outro encontro, sem nenhuma telefonema sem sentido algum (a não ser a etiqueta social!) no dia seguinte, sem amor ou sem ódio.
Mintas com o sexo!
Mintas tão bem com o sexo até enganar tão bem a ti mesma que o outro te propicie um orgasmo tão sublime quanto o proporcionado pela masturbação.

PS.: se a maioria das pessoas soubessem o quanto elas transam mal, evitariam falar tanto de sexo.

sábado, 31 de julho de 2010

-346° C

O fogo ainda arde.
Não é o fogo que Prometeu roubou dos céus.
É de outro fogo que eu falo, daquele fogo que queima a frio.
Não tenho e nem quero mais notícias, embora tudo que quero é saber dos seus dias.
Nenhuma das chamas ainda se extinguiu, mesmo a mais adormecida, aquela que se esconde debaixo das cinzas, esconde uma brasa viva, esperando qualquer sopro de leve.
O fogo! Nos ensinar a fazê-lo foi o melhor presente que as estrelas puderam nos dar.
O primeiro fogo, a primeira chama, nunca se apagará. Apenas cessará quando a última estrela se apagar no céu.

***

Queria entender o sentido disso tudo.
Se é que tem sentido.
Não tem sentido.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

samsara

Por favor, apague a luz. E se desejar ficar aqui ao meu lado deixe que eu fique imanginando você com os olhos fechados.
Homens tolos amam!
Não sei de mim, não sei de você.
Tem uma vela acesa, teimando em resistir aos ventos fortes e em cima de cubos de gelo.
Sou só eu? Ou somos eu e você, esmurrando o vento e lutando contra Os Inquestionáveis?
Não sei, quase sempre acho que sou apenas eu, cansado e quase sem esperanças.
Golpeando o vento, caminhando numa trilha estreita.
Me diga, por favor, sou apenas eu, ou somos nós dois?
Por favor, feche seus olhos e apague a luz.
Deixe eu desenhar meus sonhos na sombra.
Luz, chama balançando, olhos fechados, vento, sonhos, sombra. Eu, você...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Reventón

Dizem que o espírito vagueia livre, pulando por aqui e por alí. Acredito realmente que o espírito se move livremente, não pertence a ninguém.
A porção do espírito que está em mim, que é bem pouca, precisa ser passada adiante. Antes que seja tarde, antes que a noite chegue.
Pensei que tinha achado olhos com espírito, com uma porção pequena de espírito, olhos para os quais eu deveria passar a minha porção do espírito.
O mundo atualmente anda sem nenhum espírito.
Há apenas um grande nada a ser compartilhado. Um parque de diversões que nunca fecha e um festval de horrores que se superam em requintes.
O espírito que vive em nós não nos acorrentou um ao outro. Pensei que havia acontecido este acorrentamento no olhar, no abraço.
O espírito vibrou, ressonância? Não sei se o espírito encontrou seu eco.
Num mundo pobre de espírito, o mais pobre dos homens vagueia, carregando a sua porção de espírito e tendo a obrigação de despejá-lo sobre outro.
Antes que seja tarde, antes que a noite chegue.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Plêiade

Eu sinto tanto...
Vejo agora um céu muito estrelado, muito distante do nosso céu cheio de material em partículas e luzes artificiais que encobrem o verdadeiro céu.
Comprei uma flor, talvez porque elas sejam simbólicas. São delicadas e frágeis como todos os sentimentos que a gente carrega. Que podem ser destruídos por qualquer frase, por qualquer gesto ou olhar de frieza e indiferença.
Comprei a flor naquela floricultura, a da Praça João Mendes, aquela cercada por prostitutas. Flores despedaçadas pela dureza do asfalto, dos homens e da vida.
E eu ainda sinto tanto...
Não pude ver reação, não pude ver brilho no olhar, não pude ver nada.
E o tempo passa rapidamente.
Ontem foram 13, hoje já são 17.
Dias difíceis.
E o céu continua lá. Muito acima dos meus dedos, e eu vou tentando driblar a morte, essa dama atraente que promete cura para todas as minhas dores. Eu não a quero! Não agora, que já deixei de ser estatística: não morri antes dos 18, não morri aos 25 e sobrevivi aos 30. Agora, apenas espero.
Eu sou aquele que espera, que faz contas, que inventa histórias, que elabora passatempos e que insiste em sorrir.
E o céu, carregado de estrelas, não oferece uma para mim e nem faz de mim uma delas.
Céu, estrelas, flores, fogos de artifício. Tudo é festa nesta triste passagem.
Estrela, caminhos tortos, amor.
Sonho com seu rosto iluminado a luz de velas.
Será que algum dia você me compreendeu?

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Não me diga que todos são iguais, porque não são!
Eles, quando fizeram a Revolução sabiam muito bem disso. Uns eram corruptos, outros moralistas e outros queriam roubar todo brilho e toda glória para si.
Todos são diferentes, e muito diferentes!
Igual é apenas o rebanho, o que se move guiado por outras mentes.
Eu e você não somos iguais, não somos iguais a nós dois e menos ainda iguais aos outros.
Nós dois somos muito diferentes de tudo isso que está aí.
Eles dizem que são todos iguais. Mas a cada dia, a todo minuto, vemos que todos são muito desiguais. Que são todos tratados de formas desiguais.
Eles nos enganaram. Eles sabiam de tudo isso quando fizeram a Revolução.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Quatro filhos

Meu primeiro filho herdou de você o gosto pelo silêncio, ele se afasta de todos nas festas e ele chora uma angústia e uma tristeza pela alegria vivida no dia de hoje e que amanhã será apenas uma saudade ao olhar nas fotos aqueles que já não estão.
Meu segundo filho herdou de você a sua coragem e covardia, ele é semelhante a um chiuaua, que é extremamente valente na presença do dono mas que ao ver apenas um movimento brusco do estranho se afasta mas continua latindo insistentemente. Braveza, covardia, prudência. Ele herdou de você o temor que trava a garganta na hora de dizer aquilo que se deve, o gosto pelas intermináveis discussões inúteis e o engano de dizer as palavras que magoam muito nas horas indevidas.
Meu terceiro filho herdou de você todos os seus traços delicados, afeminado, uma menina de voz rouca e trejeitos masculinizados: um entre. Enigma que atrai a todos os olhos: homens, mulheres, velhos e crianças. Todos querem sugar da sua saliva a sua beleza que cega, que é enjoativa e que esconde seus defeitos e as desproporções de seus traços. Meu terceiro filho é um enigma.
Meu quarto filho herdou de você toda a sua tolice e inteligência. Ingênuo, semi-autista, tolo, facilmente enganado por todos, mas dono de uma inteligência e sabedoria extremas, resolve qualquer problema, antevê qualquer tragédia, discute com graça e objetividade sobre qualquer tema. Meu quarto filho herdou de você o gosto pelos rascunhos, pelos rabiscos, por escrever e desenhar e no segundo seguinte se desfazer de tudo aquilo que fizera. Meu quarto filho herdou de você aquela maneira de se trancar em seu mundinho particular e a quase impossibilidade de ser retirado de lá.
Meus filhos, minhas eternas preocupações.
Como você eles me aborrecem; me aborrece amar tanto eles como eu ainda amo tanto você.
E você continua com a cabeça nas nuvens, e eu não consigo prender uma linha aos seus pés e fazer com que você flutue apenas sobre a minha cabeça.
Meus quatro filhos me dão muitas alegrias, eles geralmente me fazem chorar pelo muito que me lembram você. Tão distante, mesmo assim ainda tão dentro de mim.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Morte, a Festa

terça-feira, 29 de junho de 2010
23:26

A morte deve ser semelhante a uma festa.
Depois que morremos acho que devemos ser transportados por uma música agradável até um local onde todos se divertem, sorrindo e dançando com copos cheios na mão.
A morte deve ser semelhante à parte final de uma peça de teatro, que termina comigo (ou com você) fazendo o monólogo final com a plateia, dizendo as suas últimas palavras antes que o pano desça.
Atrás do palco estão todos os outros personagens importantes: amores, amigos e os nobres inimigos, todos prontos para os longos abraços e parabéns. Todos prontos para uma grande comemoração do sucesso que foi a minha (sua) representação nessa vida
Seu amor, aquele que você muito amou e que nunca pode ficar junto devido os desencontros do script, é o primeiro(a) a te beijar no fim da peça, depois que toda a encenação termina.
Seu melhor e mais doce inimigo te dá um longo abraço e diz que a sua encenação foi perfeita e que ele quase acreditou no ódio mortal que você dizia sentir por ele durante a encenação. A peça acabou, ele te dá um longo abraço fraterno.
A morte deve ser semelhante a uma festa.
A comemoração pode ser em qualquer lugar: em um boteco, numa cantina italiana ou numa danceteria.
A morte deve ser semelhante a uma festa, alegre e ruidosa. Você deve colocar a boca no ouvido da outra pessoa para se comunicar, vocês riem quando não entendem bem o que o outro quis dizer.
Uma festa eterna, sem a ressaca e sem a preocupação do dia seguinte.

sábado, 26 de junho de 2010

Se eu leio um mesmo livro por diversas vezes não é para melhor compreendê-lo, pois quem compreende o que se passa na cabeça de um autor? Se leio um mesmo livro várias vezes é para me sentir inteiramente dentro dele, pois a mesma estória esteve dentro de mim, sempre, sem eu nunca perceber. O livro me despertou! E eu quero ser despertado desse maldito transe que é a vida quando o releio.
Se ouço a mesma música por várias vezes, durante anos, é porque ela consegue me transportar para outro lugar, é porque ela acalma a fera em mim e é porque ela delineia muito bem, em nuvens, a boca e o corpo daquele fantasma que eu persigo e que é a lembrança do beijo nunca beijado.
O tempo galopa!
Hoje você já é uma mulher.
E você é, continua sendo, o livro que eu quero abrir e ficar preso totalmente.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Para os profundos, os abismos; e para os raros, as coisas raras

Nessa história, nesta vida louca, não sei quem sou eu nem quem é você.
Mas, saber que você sorri me faz bem.
Nessa história não sei quem é por mim. Mas sei que me afastei apenas por amar de um jeito que ainda não aprendi a compreender.
Nessa história, nesta vida sem sentido, sinto reverberar infinitamente algumas palavras dentro de mim.
Saber que você tem motivos para sorrir preenche o meu dia.
Há coisas que eu ainda preciso te dizer. Um dia direi!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Venal

Me assusta a beleza dela. Tem algo de santo naquela beleza.
Cegos, somos cegos! O belo ou o feio são apenas harmonias e desarmonias de contrastes de claro escuro. É tudo o que vemos!
Ela tem algo de santo nos olhos.
E eu vagueio perdido. Entre pequenos quartos baratos nos quais me prostituo e decaio a cada instante, a cada dia.
E ela, com algo de santo e distante, não faz com que eu me sinta mal por ser o que sou. No fundo, acho que ela chora por mim, e pelos outros demônios que vagueiam, quando ela baixa o rosto para esconder os seus lindos olhos.

(Para N., Eternamente bela!)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Estranhamor

"Estranho amor, estranhas euforias e estranhas depressões"
(Martin L. Gore)


Ela não precisava falar nada, sua respiração negava todas as suas convicções.
E ela é uma menina tão bonita, só que ela é da geração pós "Meninos não choram". Tão machinho, tão selvagem!
Eu não falei muita coisa, apenas frases sem muito sentido enquanto ela me ajudava.
Não sei, só sei que a proximidade a deixou desconcertada e, por um instante, eu senti que ela deixaria abalar suas convicções, se a hora fosse outra, se o lugar fosse outro.
Saudades de L., só ela me entenderia nesse momento.

sábado, 5 de junho de 2010

Estranha musa

Eu gosto de travessias.
Quem não é do mundo não entende! Não sabe o prazer de fazer uma grande travessia, de se aventurar pela selva de concreto.
Eu tinha que fazer aquela travessia. Foi a minha despedida de alguém, foi o meu presente!
Caminhar lado a lado, em silêncio.
Cidade alta, cidade baixa, centro barra-pesada, bairros luxuosos, favelas, rio podre. Passamos por tudo isso na despedida.
Eu gosto de travessias, rua após rua, pontes e viadutos, risco e medo a cada esquina.
Por fim, foi a nossa última aventura.
Só quem é do mundo entende!

***

E você, musa? Será que ainda corre como veneno em minhas veias? Não sei, apenas te queria com as suas pernas nuas, aqui e agora, para eu vê-las e tocá-las.
E você, musa? Esquecendo de te esquecer eu não te esqueço.

***

Nada mais perfeito que um bom encontro casual. Botas compridas em pés pequenos. Nada melhor que um encontro casual!

domingo, 30 de maio de 2010

uma questão de julgamento

Dói quando você perde, ou não chega aonde quer, quando você gastou tempo, neurônios e, principalmente, amor.
Eu dei de mim tudo o que podia, eu me exauri, eu me cansei. Foram dias, meses e anos de consumação, de expectativas, de esperança. Tentei transcrever a minha vida e os meus sentimentos.
Por isso que dói perder.
Mas, se aventurar é se colocar em julgamento, e os julgamentos são frios.
Quando os julgadores recebem para julgar, quando não são totalmente livres para suas escolhas, o julgamento fica sob suspeita.
E eu fui julgado, talvez por três almas, não mais que isso. Talvez em alguma eu tenha encontrado benevolência, mas não consegui obter o consenso.
Por fim, preciso deixar de dar tanta atenção aos meus julgadores e seguir em frente.
É uma pena, foi a minha melhor história.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

o incidente das mariposas

As mariposas batem nas lâmpadas porque o FOGO as atrai. No fundo, tudo o que elas querem é morrer incendiadas, é bater as suas asas flamejantes em poucos segundos que lhes restam de vida após se incendiarem.
Bater com a cabeça freneticamente contra as lâmpadas, desesperadamente tentar estourar uma, para sentir o choque e o FOGO, consumindo o interno e o externo.
Você não entende as mariposas, no fundo até as teme pela sua forma desajeitada de voar. São passos de uma dança incompreensível para você e para mim.
Você não entende...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Helena desvendada

Helena

Helena desvendada: os troianos amavam Helena e sua beleza, pouco importava o adultério, tanto a amavam que lutaram para que ela permanecesse em Tróia, mesmo que todos os troianos morressem por ela.
A concepção de um mundo onde todos são um e mexeu com um mexeu com todos nos parece alheia e distante.
Hoje deixamos o pecador isolado, remoendo seu pecado, afastado num canto.
continua...

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Você sabe que nunca nos importamos

Sonho de uma noite de verão. Morto! Mais morto do que qualquer feto abortado que eu já tenha visto num daqueles vidros de laboratório.
Sentimentos mortos e frios, boiando no formol, ainda com um cordão umbilical cortado, buscando conexão nas frias paredes do vidro, conduzindo ao feto o gelado formol.
Tentei construir um edifício sobre os escombros de um mundo que jaz em qualquer coisa que desconheço. Falhei!
Não salvei uma alma e nem a conduzi ao inferno. Fiz apenas meu discurso solitário.
Hoje não consigo mais olhar na cara de quem um dia vi, mas não reconheci.
Hoje apenas gostaria de erguer um copo ou dois e brindar à toda infelicidade sobre a Terra.
Sonho de uma noite de verão. Morto, nunca vivo, apenas sonho.

domingo, 25 de abril de 2010

Deveria eu estar triste?
Não estou.
Algo de felicidade, real ou potencial, preenche meus dias, minhas horas.
O que nunca veio se foi. Não lamento, não carrego pedras para sentir falta do peso e do desconforto que elas me trazem.
Deixo as pedras soltas no chão.
E sigo em frente, tentando jogar semente boa em solo ruim.
Fim.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A beleza de Gaia

As lindas cinzas do vulcão que tem um nome impossível de se escrever e de soletrar.
Caos, que caos?
O homem submete tudo a sua ridícula "ordem" econômica, aos seus interesses mesquinhos e imediatos.
O mundo é mais, o homem é só uma pulga, um verme que rasteja na epiderme do mundo.
O caos e as cinzas do vulcão. Espetáculo lindo da mãe Terra (de Gaia) mostrando suavemente sua infinita força e capacidade de criação/destruição.
E o homem, esse verme rastejante, lamenta suas ínfimas perdas econômicas e seus "importantíssimos" compromissos adiados!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Rainha de Copas, Rainha de Ouro: Coração de Ouro

Tudo que tenho de você é uma fotografia.
Seu espírito está tão transparente nessa foto!
Eu não esperava que no reencontro você virasse meu coração de cima pra baixo.
Calma, tranquilidade, amizade e, sobretudo, carinho.
Com o tempo e a distância a gente quase esquece de tudo, deixa tudo de lado, num cantinho isolado, num cantinho onde ficam as emoções e pensamentos secretos. Nesse cantinho guardei o que sentia por você.
Mas aí eu te vi novamente. E pela fotografia vejo seus olhos que não fingem e não escondem, que são espelhos.
Não disse tudo o que eu queria te dizer.
E, para meu castigo, agora o tempo abriu uma contagem regressiva contra nós.
Alguém disse, não vou procurar a citação (hoje estou pensando apenas em você!), alguém disse um dia que amamos alguém tão somente por suas qualidades.
Eu sempre soube que amava você por suas qualidades, mas não só por elas. Cada peculiar defeito que eu colhia também me aproxima de você. Não quero que você vá e não volte, não quero que suma da minha vida.
Eu sei, e isso eu sei com certeza, que outra como você, nem se a vida me premiasse/castigasse com mais um milhão de anos.
E você, com seu Coração de Ouro, até agora entendeu toda palavra que eu quis te dizer. Isso me faz bem!
Você, Coração de Ouro.

sábado, 10 de abril de 2010

Crossing the river

Estou confuso.
Melhor ouvir uma música para a alma. Todos os versos dela falam por mim hoje.

Crossing the river

Something tells me I can trust in you
There's no pretense in the things you do
So much water under the bridge
And I'm standing here at the water's edge
Looking into your eyes

I'm crossing the river to get to you
I'm crossing the river
Crossing the river

You had the longing of a broken heart
Shine your light in a room that was frozen dark
Looking into your eyes (looking into your eyes)

I'm crossing the river (crossing the river ) to get to you
I'm crossing the river (crossing the river)
And this time I'll make it through
With your faith and your arms open wide
I see you there on the other side
Crossing the river, of fear and pride

There's no turning back,
I know I've come so far and I've got so far to go
Looking into your eyes (looking into your eyes)
I'm crossing the river (crossing the river ) to get to you
I'm crossing the river (crossing the river)
And this time I'll make it through
With your faith and your arms open wide
I see you there on the other side
Crossing the river, of fear and pride

Oh yeah, I'm crossing the river
I'm crossing the river (crossing the river)
Crossing the river to get to you

(The Devlins)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Frio!
16ºC com chuvisco forte do lado de fora, confortáveis 22ºC do lado de dentro.
E eu não conseguia dar as piruetas e cambalhotas que ela pedia.
Frio.
Me senti vivo, poderoso e completamente inútil.
Frio...
Ao longe, à distância, procuro, no meio dos guarda-chuvas, uma menina bonita de cabelos escuros encapuzada.
E ela sempre some.
Frio. Lá fora e aqui dentro.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O espírito flui livre no azul.
Os sons são outros, olho para o lado, aonde o azul se torna verde.
Não estou triste, tristeza rima com remorso.
Apenas sinto, quando estou no azul, vontade de ver os seus gestos fluindo lentamente.
os sons no azul também são outros.
Não estou triste, apenas sinto a vida um pouco vaga, um pouco incerta.
Propostas, sim. Todas engatilhadas, esperando a hora de serem feitas.
Alguma esperança de resposta? Não sei!
Hoje na cidade vi pessoas mortas caminhando. Nessa hora senti o quanto foi importante ter dado um pouco da minha vida para você.
Quero logo poder passar do azul para o verde.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

(Ricardo Reis)

domingo, 21 de março de 2010

Imaterial

domingo, 21 de março de 2010
17:51


Percorre, por aquela trilha, um vento. Uns dizem ser vento do esquecimento.
O vento assovia assim, como se fosse você sibilando no ouvido de alguém, numa brincadeira.
As árvores movem suas copas como se estivessem dançando, o vento não é forte, mas é bem constante.
Quero seguir por aquela trilha, sentir o vento do esquecimento.
Esquecer todos os abraços não dados, todos os apertos nunca sentidos e para afastar o fantasma presente do beijo nunca beijado.
Eu sigo a trilha, ela começa e me engana com todas as suas voltas, com todas as voltas que ela dá.
E eu não sinto nenhum vento, nenhum vento, apenas uma brisa morna e discreta.
O peso do tempo faz as minhas pernas doerem.
Esquecer a lembrança do que nunca foi é mais dolorido do que esquecer aquilo que foi e ficou no passado.
Num certo momento as folhas revolvem, segue um pequeno redemoinho.
De dentro dele sai um pequeno gênio que em tudo lembra você.
Ele faz um sinal para eu me aproximar, sopra um vento suave no meu ouvido.
As folhas balançam.
E eu dou voltas perdido no bosque, na trilha do vento do esquecimento.

domingo, 14 de março de 2010

Na capital secreta do mundo

Ike,
Meus ideais podem não serem os mais puros e nem as minhas aspirações as mais nobres.
Mas eu tenho orgulho de um dia ter encontrado você, de ter assumido o seu legado de amor.
Ver você voltar foi como ver o céu se abrir novamente.
Tenho tanto pra te mostrar e te contar!
"Boas causas atraem bons efeitos?"
Talvez você tenha essa resposta.

sábado, 13 de março de 2010

Balada para alguém incomum

Ike voltou.
Assim do nada, de repente.
Depois de tempo suficiente para dar uma volta ao mundo.
Seu rosto, suas roupas e suas botas estão cobertas de terra vermelha, marrom, amarela, poeirenta, barrenta etc.
Ike caminhou pelo mundo e, por um agrado, me fez notá-la, para poder ver o pó de outras terras cobrindo suas vestes e admirá-la muito por isso.
Ela tinha um cantinho secreto, "a capital secreta do mundo".
Espero que Ike me leve pela mão, pacientemente e me mostre esse lugar.
Ike voltou, embora ike signifique um lago, Ike é água que corre livremente, ninguém a segura.
Agradeço aos céus por Ike ter me escolhido para ver a sua roupa empoeirada e o seu cansaço da viagem.
Ike voltou...

quarta-feira, 10 de março de 2010

Eris

(Só uma pessoa poderia saber que, com os olhos, no meio de todo aquele tumulto, ela procurava dizer alguma coisa para alguém que não estava lá... E esta pessoa sabe!)

Enfim, terminei.
É um esforço terrível para mim terminar alguma coisa que começo.
Pra quê terminar algo que a gente começa? Por que não deixar no meio e começar a fazer outra coisa?
O mundo pede: termine o Ensino Fundamental, termine o Ensino Médio, faça uma faculdade, termine o curso. Não seja um fracassado!
Que tipo de fracassado? Um fracassado sem diploma ou um fracassado na existência?
Tenho alguns diplomas enquadrados que guardo com carinho para eles não ficarem amarelados e empoeirados. Alguns diplomas! Foi o que ficou de grandes expectativas, de viagens, de cerimônias de premiação e de diplomação.
E eu sou o mesmo.
Se eu tivesse parado no meio de cada coisa que comecei eu seria outro?
Seria mais livre? Seria menos livre? Seria um fracasso?
Não sei.
Só sei que termino algo com prazer quando eu me empenho numa causa. Mesmo numa causa que pareça ser a causa mais perdida de todas!
(Obrigado por existirem as causas perdidas, elas dão significação à minha vida)
Terminei a minha simples estória, a entreguei e agora espero o julgamento sobre ela.
Mas tenho tanto ainda a fazer, tantos trabalhos pra desenroscar e ainda mais uma história a escrever.
Será que conseguirei iniciar?
Será que consigo chegar até o final?
Eu quero, pois tenho uma causa. A mais bela causa possível!
Perdida? Pode ser, mas não teve alguém que disse que 'a vida é uma causa perdida'?
Então, eu luto. Até o último dia, o último minuto, o último respiro.

sexta-feira, 5 de março de 2010

(un)Lebenswelt

Hoje eu gostaria de escrever sobre o tempo, gostaria de escrever sobre as estrelas e sobre os mistérios do mar, gostaria de escrever sobre dias felizes e momentos alegres. Mas não sei.
Me perco no mistério das palavras, me perco pois sei exatamente onde quero chegar, mas não sei se chego, não sei se alcanço.
Sou apenas uma alma errante, sou apenas eu. Nada além.
Nem rico, nem famoso e muito menos irresistível.
Não sou portador de múltiplos talentos, não tento e nem quero convencer ninguém de que minhas causas sejam justas e meus atos bons. Isso pouco me importa.
Mas hoje eu gostaria de escrever, não sobre o que foi ontem nem sobre o que virá, mas sobre o que é. O que é; aquilo que parece ser tão pouco, ou mesmo nada, que a gente nem percebe que guarda pois passamos os dias arrastados pra lá e pra cá, no fluxo interminável do tempo.
Quando eu faço uma pausa e penso naquilo que é (que nunca foi e talvez nunca seja) eu encontro o meu lugar. Meu lugar é sentado ao lado do seu, lá, onde os sons imperceptíveis se tornam insurportavelmente altos e silenciam as nossas vozes (ou a nossa voz).
Estou onde eu sempre estive. Não acho que isso seja bom ou mau, apenas é. Apenas não é.
E hoje é dia, hoje são dias.
Se a mensagem será recebida ou se cairá no esquecimento, tanto faz (não, não é tanto faz!).
Quero que a mensagem seja recebida, que faça eco, que reverbere, que seja retransmitida, que não morra, que não seja imperceptível.
Pode ser que a mensagem seja apenas um ruído de fundo, mas que seja um ruído de fundo que por um segundo te prenda a atenção.
Hoje é dia, hoje são dias.
E a distância intransponível de uns poucos quilômetros, parece a distância de uma galáxia inatingível ou de uma realidade paralela.
Hoje são dias.
Enfim.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ela

Ela veste o que eu não sei.
Pernas longas, caminham não sei pra onde.
Sinto falta, sinto. Não de estar perto, mas sim dela em mim.
Ela diz "isso é segredo".
Segredo.
Ela, não sei por quê sinto falta dela, de quê sinto falta nela.
Mas sinto, só sei que sinto.
E ninguém me tira, ninguém me rouba esta vontade louca de engolir cada pedacinho dela.
Isso é meu, ninguém me rouba, ninguém me tira.
Até que eu decida vomitar, cada pedacinho dela, que está aqui.
Ela, não sei o que dizer dela, só sei que não a conheço.
Tudo o que sei é que ela disse um dia "é segredo".
E só (não é só).

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Carnival is over

Acabou.
Frio e chuva durante todo o dia. Só para lembrar que eu amo São Paulo. Só para lembrar que eu não vivo sem ela e que tento viver sem você.
Acabou o Carnaval. Não fiz sexo de alto risco, pra me arrepender e ficar com medo de morrer de DST. Não mesmo, me ausentei do batuque e da transmissão televisiva.
Pobre Carnaval, uma festa onde a diversão tem que ser organizada como uma parada militar, pra render um "DEZ, nota DEZ"!
Eu não enlouqueci no Carnaval. Quem mais enlouquece no Carnaval?
Só fico perplexo porque vi que milionárias como Madonna e Paris Hilton ganharam cachês de milhões de dólares para comerem e beberem às custas de nós, pobres terceiro-mundistas.
Enfim, acabou o Carnaval, eu não enlouqueci, quem enlouqueceu?
Festival de corpos nus, com bundas e peitos de silicone e músculos trabalhados com anabolizantes. Festival previsível, todas as perguntas previsíveis.
O Carnaval acabou, morreu mais gente do que numa pequena guerra, nem em zona de conflito morre tanta gente quanto nesse feriado.
O Carnaval acabou. Agora podemos voltar a ser falso-moralistas, a cobrir peitos e bundas e nos revoltarmos com os "atentados ao pudor".
Acabou o Carnaval, pra você e pra mim.
Logo a temperatura do sol baixa, chega o inverno, e a vontade de você volta a ser outra vez insuportável.
O Carnaval acabou, não tem mais bateria, bandinha de sopro ou trio elétrico.
Enfim...

Say goodbye my own true lover
As we sing a lovers song
How it breaks my heart to leave you
Now the carnival is gone

High above the dawn is waiting
And my tears are falling rain
For the carnival is over
We may never meet again

Like a drum my heart was beating
And your kiss was sweet as wine
But the joys of love are fleeting
For Pierrot and Columbine

Now the harbour light is calling
This will be our last goodbye
Though the carnival is over
I will love you till I die

(the carnival is over)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Dias velozes

Pensei que não chegaria a escrever sobre este tema aqui.
Há dois livros fantásticos do Antigo Testamento, que todos deveriam ler independentemente de ser judeu, católico, mulçumano, protestante, ortodoxo, budista, hindu, ateu, agnóstico ou qualquer outra coisa.
São estes livros o Livro de Jó e o Eclesiastes.
No Livro de Jó, há um capítulo primoroso, o capítulo sétimo. Conheço poucos textos com tanta profundidade e com tanto peso existencial.

"Meus dias são mais velozes que a lançadeira do tecelão; e perecerão sem esperanças"(Jó, 7:06)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Retorno

Tenho projetos ambiciosos que ainda não abandonei, mas cuido deles sozinho, como já me acostumei a fazer.
Estou chegando ao ponto que quero. Estou encontrando a concepção de tempo que eu quero passar às pessoas.
Meu melhor trabalho está quase pronto, só faltam alguns detalhes, que estarão completos no mês de março (que eu prevejo que será bem conturbado).
A história está quase sendo reescrita em sua última e melhor redação.
É isso!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Paciência

sábado, 13 de fevereiro de 2010
11:32


Avaliando as coisas da última semana pra cá, percebi que o que me oprime é o confinamento.
Nesta cidade vivemos confinados, presos, esperando, indo incessantemente de lá para cá.
A vida precisa de amplitude, os horizontes precisam ser alargados. A vista de uma janela de 1mx0,50m é muito pouco, é preciso mais.
Uma estrada infinitamente grande, ver onde as nuvens tocam o chão, ver lá longe, onde a terra se curva, ver as luzes da cidade ao longe.
O homem não merece o que a cidade oferece a ele.
O paulistano não merece o que os seus governantes lhes dão. O medo, a pressa, a perda de tempo, o ar imundo, a cidade imunda e descuidada e o risco a cada saída de casa.
Merecemos mais!
Será que a única saída para a cidade é a saída da cidade?
Espero que não. É impossível não ter um caso de amor por esta cidade, tão cheia de possibilidades e de novidades a cada olhar, a cada esquina e em cada face.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A felicidade

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
17:57

A felicidade existe!
Ela está em qualquer lugar em que não é preciso procurar para encontrá-la.
Para os seres urbanóides a felicidade é uma coisa longínqua, inatingível até.
Ela parece estar em títulos, em um cargo melhor, em um novíssimo carro importado.
E ela se perde fácil, se perde nas longas horas de espera, se perde nos desencontros dos amigos que nunca podem estar juntos para conversarem e se divertirem. Todos têm sempre algum compromisso urgente ou estão muito cansados!
A felicidade existe, é claro!
Ela se constrói, minuto a minuto, atitude por atitude, gesto por gesto.
Perder a felicidade e buscar se destruir é uma coisa que a cidade dá gratuitamente aos seus habitantes! Eles não são livres, estão sempre presos e confinados como gado: no trabalho, em casa, no shopping ou no trânsito.
A felicidade é ser livre!
Ser livre é viver apenas com o suficiente. Sem querer sempre mais, sem querer sempre mais e mais.
Ser livre é viver apenas com o que é suficiente para si e ter sempre um pouco para dar.
Seguirei agora na contramão para poder tomar o rumo certo.
Eu vi pessoas felizes!

domingo, 31 de janeiro de 2010

domingo, 31 de janeiro de 2010
21:50


Janeiro comprido.
Mais comprido do que qualquer agosto.
Minha casa não caiu, não nadei na enchente, não fiquei preso em congestionamentos sem fim.
Mas o ano está só começando.
Janeiro comprido.
Fim de coisas, coração vagabundo, preguiça chata.
Não me lembro de um janeiro tão longo assim.
Tão longo, tão curto. Já acabou e eu nem vi.
E nem senti.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

E nada mais importa


sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
21:44





Nenhum embuste me engana mais, nenhum fósforo aceso pode atear fogo à gasolina congelada de uma só vez! A combustão é lenta...
Risco um, risco dois e três. Apagam-se os fósforos, perco todas as apostas.
E o resto é petróleo escorrendo, lento, na pista.
Seus embustes não mais me enganam! Nenhum deles! Nem mesmo os seus golpes mais baixos.
Tudo o que eu quero, agora, é atear fogo em tudo, é ver tudo queimando ao sol.
Tudo é risco, tudo é o que eu arrisco. E o tanque cheio anseia pela combustão.
Volátil gás, voláteis paixões. Gás inflamável na placa. Gás que não queima, não queima, não explode.
Há impostores por todos os lugares: você e todos os outros. E nada queima.
Seu fogo, sua combustão instantânea, sua explosão! Tudo falso. Explosão tímida de um balão de gás.
E eu me arrisco riscando fósforos e tentando atear fogo à gasolina congelada.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Politica

sábado, 23 de janeiro de 2010
10:29


Às vezes tenho vontade de escrever sobre política, mas este espaço não é pra isso!
Além do mais, política, à revelia dos fatos, não passa de uma mera questão de opinião.
Já tivemos nesta cidade gestões populares e participativas, que foram severamente criticadas pela grande mídia, que está ligada aos interesses privados de certos grupos privilegiados.
Promover a cidadania oferecendo boa escola, acesso a saúde e um transporte público de qualidade, não são atitudes vistas com bons olhos por nossa classe média preconceituosa. Parece, que para eles, vale aquela velha máxima: Dê alguma coisa aos pobres e eles nunca vão deixar de querer sempre mais e mais!
Então, eles gostam de ver a maioria privada de tudo: de uma vida digna, de possibilidades de um futuro e, o melhor, vivendo na periferia, lá onde a encosta cede e onde a população negra e mulata e a maioria dos migrantes e seus filhos ficam confinados, sem enfear os belos jardins, de população branca e sorridente.
Falar sobre política seria me irritar, descrevendo a apatia das pessoas diante da tarifa de ônibus urbano mais cara do país, que nem por isso é transportada dignamente, espremida como sardinhas em uma lata.
Falar sobre política seria me irritar com a falta de planejamento que vem irritando toda a população, apesar de vivermos por quase 20 anos sob o julgo de um único partido que conduz o Estado de SP sabe-se lá para onde.
Não quero saber de partidos, apesar de naturalmente tender para a esquerda, afinal eu sou pobre, sou filho de trabalhadores, obtive tudo por meio de sacrifícios; não me interessam partidos com suas visões parciais e seus projetos de poder. Sou contra qualquer tipo de manipulação e sectarismo.
Minha cabeça, meu voto!
Todos poderiam pensar e agir assim.
Mas não, o que veremos daqui por diante serão as "pesquisas de opinião" encomendadas e tendenciosas, que farão a cabeça das pessoas.
O que veremos são as falsas propagandas daquilo que foi feito (muitas vezes mal-feito) e os ataques pessoais. Um festival de baixarias e escândalos.
Então, para que escrever sobre política? Não quero me irritar mais.
E, todos os assuntos que dividem as pessoas, que geram contendas inúteis e sem fim, não me interessam.
Política, religião etc. Para isso tudo é claro que tenho uma opinião.
Mas como todos os outros é só uma opinião. Não a verdade absoluta. Por isso prefiro calar sobre esses temas.
A opinião é uma coisa tão vil, que faz com que as pessoas cubram os olhos diante da verdade óbvia, distorcendo tudo para confirmar aquilo que sai de sua boca e ludibriar os menos cuidadosos.
Tudo é trama, tudo é ardil, tudo é vaidade pessoal.
Por isso, enquanto puder, fugirei desses temas e tentarei usar este espaço para sonhar. Pois a vida é medíocre, mas nem por isso deixemos de sonhar!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Janeiro

domingo, 17 de janeiro de 2010
16:51


A vida escorre lenta em janeiro, como aquele punhado de lama que a gente pega no fundo da água da praia, que a gente não consegue prender entre os dedos.
Janeiro, coração não acelera, bate na velocidade da incerteza.
Olho o tempo passar pelo espelho em janeiro, os olhos um tanto vermelhos, o corpo um tanto mais dolorido.
Desejo, sonho, tudo que não vem, tudo que está aqui, tudo parado.
É janeiro, sinto o tempo passar como a água da chuva que escorre.
Te quero.
Te quero.
Te quero!
Janeiro é só o começo do sofrimento do ano inteiro.
Te espero, estamos só em janeiro!

domingo, 10 de janeiro de 2010

E agora, você consegue me ouvir?

O tempo.
Os teóricos dizem que próximo de um buraco negro o tempo é achatado, até parecer que parou totalmente.
É como se o relógio fizesse o tic, mas nunca mais chegaria o momento do tac.
Uma mente livre e um amor no coração. Sou rico, sou completamente miserável.
E o relógio vai fazendo tic-tac enquanto eu não te vejo. Mas quando eu te ver ele fará apenas tic-tic-tic-tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiic.