terça-feira, 29 de junho de 2010

Morte, a Festa

terça-feira, 29 de junho de 2010
23:26

A morte deve ser semelhante a uma festa.
Depois que morremos acho que devemos ser transportados por uma música agradável até um local onde todos se divertem, sorrindo e dançando com copos cheios na mão.
A morte deve ser semelhante à parte final de uma peça de teatro, que termina comigo (ou com você) fazendo o monólogo final com a plateia, dizendo as suas últimas palavras antes que o pano desça.
Atrás do palco estão todos os outros personagens importantes: amores, amigos e os nobres inimigos, todos prontos para os longos abraços e parabéns. Todos prontos para uma grande comemoração do sucesso que foi a minha (sua) representação nessa vida
Seu amor, aquele que você muito amou e que nunca pode ficar junto devido os desencontros do script, é o primeiro(a) a te beijar no fim da peça, depois que toda a encenação termina.
Seu melhor e mais doce inimigo te dá um longo abraço e diz que a sua encenação foi perfeita e que ele quase acreditou no ódio mortal que você dizia sentir por ele durante a encenação. A peça acabou, ele te dá um longo abraço fraterno.
A morte deve ser semelhante a uma festa.
A comemoração pode ser em qualquer lugar: em um boteco, numa cantina italiana ou numa danceteria.
A morte deve ser semelhante a uma festa, alegre e ruidosa. Você deve colocar a boca no ouvido da outra pessoa para se comunicar, vocês riem quando não entendem bem o que o outro quis dizer.
Uma festa eterna, sem a ressaca e sem a preocupação do dia seguinte.

sábado, 26 de junho de 2010

Se eu leio um mesmo livro por diversas vezes não é para melhor compreendê-lo, pois quem compreende o que se passa na cabeça de um autor? Se leio um mesmo livro várias vezes é para me sentir inteiramente dentro dele, pois a mesma estória esteve dentro de mim, sempre, sem eu nunca perceber. O livro me despertou! E eu quero ser despertado desse maldito transe que é a vida quando o releio.
Se ouço a mesma música por várias vezes, durante anos, é porque ela consegue me transportar para outro lugar, é porque ela acalma a fera em mim e é porque ela delineia muito bem, em nuvens, a boca e o corpo daquele fantasma que eu persigo e que é a lembrança do beijo nunca beijado.
O tempo galopa!
Hoje você já é uma mulher.
E você é, continua sendo, o livro que eu quero abrir e ficar preso totalmente.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Para os profundos, os abismos; e para os raros, as coisas raras

Nessa história, nesta vida louca, não sei quem sou eu nem quem é você.
Mas, saber que você sorri me faz bem.
Nessa história não sei quem é por mim. Mas sei que me afastei apenas por amar de um jeito que ainda não aprendi a compreender.
Nessa história, nesta vida sem sentido, sinto reverberar infinitamente algumas palavras dentro de mim.
Saber que você tem motivos para sorrir preenche o meu dia.
Há coisas que eu ainda preciso te dizer. Um dia direi!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Venal

Me assusta a beleza dela. Tem algo de santo naquela beleza.
Cegos, somos cegos! O belo ou o feio são apenas harmonias e desarmonias de contrastes de claro escuro. É tudo o que vemos!
Ela tem algo de santo nos olhos.
E eu vagueio perdido. Entre pequenos quartos baratos nos quais me prostituo e decaio a cada instante, a cada dia.
E ela, com algo de santo e distante, não faz com que eu me sinta mal por ser o que sou. No fundo, acho que ela chora por mim, e pelos outros demônios que vagueiam, quando ela baixa o rosto para esconder os seus lindos olhos.

(Para N., Eternamente bela!)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Estranhamor

"Estranho amor, estranhas euforias e estranhas depressões"
(Martin L. Gore)


Ela não precisava falar nada, sua respiração negava todas as suas convicções.
E ela é uma menina tão bonita, só que ela é da geração pós "Meninos não choram". Tão machinho, tão selvagem!
Eu não falei muita coisa, apenas frases sem muito sentido enquanto ela me ajudava.
Não sei, só sei que a proximidade a deixou desconcertada e, por um instante, eu senti que ela deixaria abalar suas convicções, se a hora fosse outra, se o lugar fosse outro.
Saudades de L., só ela me entenderia nesse momento.

sábado, 5 de junho de 2010

Estranha musa

Eu gosto de travessias.
Quem não é do mundo não entende! Não sabe o prazer de fazer uma grande travessia, de se aventurar pela selva de concreto.
Eu tinha que fazer aquela travessia. Foi a minha despedida de alguém, foi o meu presente!
Caminhar lado a lado, em silêncio.
Cidade alta, cidade baixa, centro barra-pesada, bairros luxuosos, favelas, rio podre. Passamos por tudo isso na despedida.
Eu gosto de travessias, rua após rua, pontes e viadutos, risco e medo a cada esquina.
Por fim, foi a nossa última aventura.
Só quem é do mundo entende!

***

E você, musa? Será que ainda corre como veneno em minhas veias? Não sei, apenas te queria com as suas pernas nuas, aqui e agora, para eu vê-las e tocá-las.
E você, musa? Esquecendo de te esquecer eu não te esqueço.

***

Nada mais perfeito que um bom encontro casual. Botas compridas em pés pequenos. Nada melhor que um encontro casual!