terça-feira, 31 de maio de 2011

O brilho tímido e pálido de algumas estrelas azuis

"Cada tempo escolhe as psicopatologias das quais irá sofrer" (C. L.-S.).
A frase é bem antiga, mas é muito válida.
Por detrás da cortina é possível identificar a farsa.
Não há quebras de tabus, eles são apenas redefinidos. Isso porque nossa principal referência de cultura (aquela que lança e destrói as tendências que estarão na ordem do dia: os modismos) é uma sociedade cheia de tabus.
O autêntico escapa a tudo isso.
Por isso que o autêntico nos é tão estranho.
Ele não precisa se adequar, ele não se adequa, está fora de tudo isso, de todo esse lixo. Por isso ele tem um brilho tão intenso e indecifrável, que nos atrai e nos afasta com o mesmo poder mortífero. O poder de aniquilar o nosso confortável nihilismo. De nos apresentar uma razão.
Ele nos é estranho apenas por ser ele mesmo, ele não é e nem precisará ser outra coisa. Não é dele caber no nosso estreito entendimento de cabecinhas moldadas para agirem de tal ou tal modo, para, por meio de um jogo perverso de inculcações, poder, a cada época, separar NORMAL e ANORMAL.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Dádiva

Te ver assim, tão feliz, corta a minha alma como uma lâmina muito afiada e muito gelada.
Um frio percorre todo o meu corpo.
Talvez porque esteja aprendendo o significado da palavra NUNCA.
Uma das palavras vazias que nos enchem de temor: nunca, nada.
É mais gélido que a inocência solitária daquele que não sabe. Não saber é benção? Ignorância é paz?
A inocência solitária daquele que faz planos em silêncio agora ecoa em palavras que perderam todo o significado: saber corta e faz sangrar.
Pouco importa?
Pouco importaria.
E agora?
Nada?
Ou apenas o mesmo que sempre?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

As laçadas de Vênus

Impossível te ver no zênite, impossível te procurar no céu noturno.
Tu caminhas com o Sol, sempre antes de amanhecer ou sempre logo ao escurecer.
Não acompanhas o movimento das esferas superiores, avanças e recuas de forma excêntrica.
Epiciclos, é assim que eles chamam: epiciclos!
Tenho que fazer vários ajustes em meus calendários e aceitar algumas boas explicações dos antigos para acreditar que giras em torno da nossa esfera e não daquela outra esfera, o Sol.
Mentirei, sustentarei todas as velhas mentiras, agora que já sei o que é a mentira é o que é a verdade, pois é necessário, é extremamente necessário.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pôr-do-Sol

Sabe, aquela dorzinha vai passar, assim como esse vazio.
Vi o Sol laranja se pôr, é a melhor forma de olhar para ele sem correr o risco de queimar as retinas.
Vi no céu, além das estrelas, das muitas estrelas, aquelas manchas leitosas que parecem com nuvens, e que a gente só vê nos lugares onde há pouca luz artificial.
Sopre a cinza do carvão, sopre o pavio da vela, mas sopre com convicção, no escuro, para ver a chama se mexer, para ver a pequena brasa vermelha que insiste em dar vida ao fogo. Uma pequena brasa vermelha e insistente.
Como tudo na vida ela é insistente, assim, como só as pequenas coisas são capazes de fazer, ela persiste.
Não é o fogo que Prometeu roubou dos céus, é nosso fogo, breve, que apenas um ligeiro sopro é capaz de fazer oscilar ou se extinguir, mas é esse mesmo sopro que faz com que a chama se mantenha viva.
Essa dorzinha um dia vai passar, acho que assim como esse vazio.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A poeira

Tudo foi levado por uma leve brisa, passou agora.
Não sei o que sobra depois de tanto, não sei se nada sobra.
Meus olhos viram, meu corpo sentiu e, no instante seguinte, passou.
Você tem mais um minuto?
Eu não tenho, juro. Mas, se você dissesse "por favor, fica" eu permaneceria aqui na porta, eternamente.
O vento passou leve e carregou, uma fina camada de poeira, remexeu o que se assentou nos lugares em que eu não consigo tocar.
E você? Tem mais um minuto?
Não agora, talvez quando o tempo for escasso e quando as chances forem quase nenhuma. É sempre assim.
Agora eu vou embora, junto com a incômoda poeira que o tempo juntou, e que agora levou.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Maio

Os dias já ficam mais curtos, um arrepio de frio percorre meu corpo.
Só me resta o gelo agora?
Se sim, quero ficar aqui, no gelo, pois tudo é mais amplo e consigo respirar melhor.
Silencioso, branco em vários tons.
E agora, só o gelo que me resta?
Preciso novamente ter o rosto coberto pelo pó da estrada?
Não sei.
Sei dos dias cinzas, apenas.
Mais uma sequência infindável de dias cinzas e frios, de fria garoa.
E, uma ponta de brasa ainda teima em enfrentar o frio terrível e a escuridão.
É maio.