segunda-feira, 25 de outubro de 2010

recém-liberto

Sexta-feira tive um encontro interessante, um desses encontros interessantes que de vez em quando a vida me possibilita.
Era um homem, um rapaz, comum.
Seu nome era Renato (primeiro fato irônico: perder a liberdade e recuperar = viver de novo). Renato, aquele que nasceu de novo.
Ele era um rapaz franzino e tinha todos os requisitos que um jovem tem para ir preso: morador da periferia, pardo e com o sobrenome Da Silva.
Tinha um sorriso juvenil estampado no rosto, que contrastava com o relato dos horrores presenciados no seu período de reclusão.
Nove meses (segunda ironia), Renato estivera nove meses recluso.
Se ele tinha culpa, não perguntei (isso não me interessava!). Mas, provavelmente sim.
Afinal ele era apenas mais um Renato da Silva, com mãe, com mulher e com filho que vive numa cidade na qual quem manda é o dinheiro. Na qual tudo é consumo, é poder, é luxo.
Renato me mostrou as fotos de seu filho e a pilha de cartas que recebera na prisão. Seu único tesouro, a única coisa, além da roupa do corpo, que ele trouxe daquele lugar.
E eu pensei na minha vida, pensei no quanto foi bom nunca colocar a minha liberdade em risco, nunca ter corrido o risco de seguir a lei do mais forte dentro de uma prisão.
E olhei para as luzes da cidade, pensei em todas as desigualdades.
Segui meu caminho e Renato seguiu o dele, infinitamente feliz por recuperar algo que perdeu.
Infelizmente eu não soube quantificar a sua felicidade, pois não sei qual é a sensação de recuperar aquilo que eu nunca perdi.
E Renato seguiu seu caminho.

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