quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Considerações acerca do atropelamento de um cão

São Paulo, quarta-feira de sol. Avenida Ipiranga, de um lado o velho hotel Hilton, do outro lado o Copan, dois pontos de referência da cidade, dois ícones do Centro Velho que guardam o glamour de décadas passadas.
Tudo tranquilo, vejo uma mulher que para no semáforo para aguardar o sinal fechar e ela poder atravessar na faixa.
O trânsito é intenso, motos, ônibus e carro disputam todo e qualquer milímetro para tentar uma ultrapassagem arriscada.
São pouco mais de 10 horas da manhã, a cidade apressada ainda desperta com alguma preguiça.
A mulher aguarda o farol abrir acompanhada de um cãozinho que me chama a atenção. É um bulldog todo preto, ainda novinho, orelhas apontadas e boca bem larga. A aparência do cão (bem feinho na minha opinião) faz com que eu me distraia olhando para aquela cena. O cão parece um pequeno diabo-da-tasmânia e está parado ao lado de sua jovem dona, que conversa com um transeunte.
Mas, em menos de um segundo o cão atravessa a avenida em disparada, talvez atraído pelos cães que passam do outro lado. É o segundo necessário para o pequeno cão ser atropelado.
Isso me trouxe uma frase interessante: Quem imagina que um cão tem algum juízo, certamente tem menos juízo do que um cão.
Estamos vivendo um período de imbecilização das pessoas. As pessoas cada vez mais colocam valores antrópicos em seus animais de estimação: amor, juízo, intuição, percepção e tantas outras bobagens. Tudo estimulado por uma literatura, um cinema e uma mídia de quinta categoria, que faz com que as pessoas imaginem que um cão ou um gato são dotados de características que eles absoltuamente não têm!
A principal é o juízo!
Isso foi um caso clássico de displicência da dona do cão, que julgou que o cão se manteria ao seu lado até o momento de atravessar a rua. Claro, é uma dedução trivial! Trivial quando vinda de um ser humano!
O cão, atraído pelo que estava do outro lado da rua não fez nenhum julgamento antes de bater em disparada para o outro lado!
O comportamento é comum dos animais: a falta de medo! Ele queria estar do outro lado, pouco importa se dezenas de carros passavam apressados pela avenida.
O homem, já possui este medo, pois ele faz parte do nosso juízo! Nós aprendemos à antever todas as possibilidades antes da execução de um ato! Nós julgamos, e se o risco for maior do que a recompensa, nós desistimos.
Parece ser simples, mas o juízo se constrói ao longo da vida.
Algo que reparo bastante é que mães e pais acham que seus filhos bem pequenos já são dotados de juízo. Deixam eles livres próximos de vãos do metrô e dos trens, em pontos de ônibus muito movimentados e outros locais arriscados. E não é necessário mais do que um segundo para que alguma tragédia aconteça.
Mas, no caso do ser humano, após os 3 anos, uma criança já é capaz de avaliar o risco de um ato impulsivo. Não é preciso ela ver outra criança atropelada para ela saber que um carro pode matá-la.
Mas, com um cão não é assim.
E aquela jovem, que estava com a guia de seu pequeno cão na mão, deve ter se arrependido muito de não encoleirá-lo ou pegá-lo nos braços para poder atravessar a perigosa avenida.

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