quinta-feira, 2 de junho de 2011

Junho

"Se sou um, prefiro estar em desacordo com o mundo do que comigo mesmo" (Entre o Passado e o Futuro)

-Nããããooooo!- disse ela, enquanto jogava para o alto todas as peças do quebra-cabeças - Eu não quero mais ver isso!
-O que foi? Porquê você fez isso? Eu passei tanto tempo querendo descobri qual era a figura desse enigma.
-Eu vi, vi que não queria ver! Era eu ali, de um jeito que eu não queria me ver!
-Como assim você? Não era você na figura!
-Era eu sim! Eu me vi, mas era eu de um jeito que eu não sou! Horrível!
-Não, não havia figura nenhuma, era uma forma ainda opaca e escura. Só sei que não era nem uma paisagem e também não era um lugar, era apenas uma figura opaca, ainda.
-Desculpe, tive medo, não me odeie por isso. Está com raiva?
-Sim e não.
-Como assim?
-Ocupei muito do meu tempo tentando resolver esse enigma, isso me deixa um pouco furioso. Mas, por outro lado, cheguei num impasse, vi que não conseguia mais encaixar peças, e isso me alivia. Mas vi algo, pude ver algo quando você jogou todas as peças pro alto e, por um segundo, elas ficaram todas suspensas no ar. Foi naquele breve segundo que a palavra cala e que a verdade pode ser sentida.
-Sinto muito!
-Tudo bem, eu saí do impasse, vi todas as peças girarem no ar, lentamente, vi seu rosto brilhando intensamente enquanto você espalhava todas as peças para o alto.
-E agora?
-Não sei, vou tentar juntar as peças novamente. Afinal, a figura não saiu, a figura sempre muda e eu nem sequer fazia a menor ideia do que estava para se formar. Milhares de pequenas peças opacas.
-E agora?
-Me ajuda a montar?
-Não.
-Me ajuda ao menos a juntar as peças?
-Não.
-Me ajuda ao menos com as peças perdidas?
-Talvez, com o tempo. Se eu lembrar.
-De qualquer forma, obrigado.
-Não me odeia por isso?
-Não.
E as peças estão espalhadas pelo chão, nenhuma peça escondida, nenhuma peça subtraída. Apenas peças de brilho opaco espalhadas pelo chão.
-Tenho que ir.
-Em definitivo?
-Se fosse definitivo eu te diria a senha secreta.
-Eu sei, espero por ela, desde sempre.
-Agora tenho que ir.
-Adeus?
-Não sei.

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