sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A palavra é bem mais que a quebra do silêncio

Eu olhava pra sua beleza muda, todos os dias, todas as horas. Porquê tanto silêncio, eu pensava. Dizia o ditado que o homem prudente que se cala é tido por um sábio.
Mas eu não queria silêncio sábio!!! Eu não queria silêncio nenhum!
Queria ouvir qualquer palavra, qualquer coisa tola, qualquer pensamentozinho sem sentido.
Era muito importante, era como se fosse uma droga, era como se minha vida dependesse disso.
Palavras são veias abertas, deixando escorrer o espírito. São livres, não tem volta. Podem ser medidas, podem ser avaliadas e podem ser reconsideradas, mas só funcionam quando se libertam pela primeira vez.
Eu ficava pacientemente esperando!
Ela não falava.
Os seus lábios tremiam querendo dizer algo, mas o espírito continuava preso, teimando em não libertar-se.
O desespero vinha até a minha boca, era ânsia de ouvir tudo, de ouvir as palavras saltando desconexas e em bloco, mais ou menos como as torrentes de água numa cachoeira, onde todos os sons se confundem e nos deixam surdos.
E as horas passavam, suas mãos falavam, seus olhos falavam, seus pés falavam. Mas a palavra não vinham.
Por fim, vinha a palavra única que quebrava o silêncio.
Vinha a palavra curta, que eu quebrava e espalhava, pra depois juntar, na hora em que chegasse em casa, para reescrevê-la, para repetí-la incansavelmente, para buscar outros significados.
A sua linda palavra muda quebrava, e eu perseguia todo o discurso que teimava em não sair.
A sua linda palavra ecoava, não era muda, era cheia de som, mas era única.
Única palavra, indizível, incompreensível e que ligava todos os pontos necessários do meu discurso sem razão.

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