sábado, 17 de outubro de 2009

Abc

Quarta-feira, Agosto 20, 2008

Hoje eu vou te falar sobre cheiros

Vou te apresentar todos os meus cheiros, dos mais evidentes até os mais secretos. Quero que você os conheça, que se familiarize com eles.

Meu cheiro principal é o de uma mistura de diesel e gasolina, cheiro da hora do rush na nossa cidade, fuligem, fumaça, misturado com a pressa de chegar em casa para me sentir completamente só no meu cantinho.

O cheiro desta cidade é muito marcante e sei que ele também impregna suas narinas, todos os dias.

Os outros cheiros são do meu ambiente, um pouco de madeira e capim da casa ao lado, que atraem passarinhos que me acordam com uma terrível algazarra todos os dias.

Meu cheiro também contém o cheiro de minhas roupas de cama, lavadas de forma cuidadosa e que secam pacientemente no sol, um cheiro que para mim é melhor do que o das roupas secas na sombra.

Todas as minhas roupas idem, cheiram assim.

Talvez, um dia você sinta o cheiro das minhas mãos suadas e o identifique com qualquer outra coisa, não sei, com qualquer coisa que habite sua memória olfativa.

Agora, o cheiro que eu guardo como despedida e esquecimento é o cheiro de Dolce & Gabbana, cheiro com recortes de memória, saguão de aeroporto, táxi, Aterro do Flamengo, Corcovado; cheiro de despedida, olhares de ódio (que vieram um pouco antes dos olhares de indiferença), nós dois – eu e ela de preto, dia muito frio, 15 metros de distância entre nós. Cheiro de fria despedida, Dolce & Gabbana, raras vezes o abro.

A lembrança da despedida fica cada vez mais apagada na memória, o perfume fica cada vez mais viscoso quando eu borrifo uma gota para senti-lo escorrer entre meus dedos.

Cheiros insuportáveis? Os de porões, os de lugares com pouca ventilação, os de cubículos habitados por fumantes, atmosferas insuportáveis para mim.

De algumas mulheres guardo a lembrança de seus cheiros, de sua oferta, de sua entrega. Mas não quis grudar no cheiro de nenhuma delas (talvez de uma ou outra, talvez).

Você e seu cheiro.

Não vou dizer que lembro bem de seu cheiro, estaria mentindo. Foram tão poucas as vezes que pude ter você muito junto de mim, não deu pra guardá-lo.

Mas, o que segurou essa memória foi sentir seu brinco de argola roçando em meu nariz e nos meus lábios, foi, também, junto com seu cheiro vir os seus braços e seus peitos. Tudo assim: sem medo, querendo acreditar na mesma verdade que seus olhos buscavam.

Foi nesse momento que percebi o todo e que quis esse todo pra mim.

Mas, será que esses braços e esses peitos estão prontos? Não sei, essa é uma das dúvidas que mais me atormentam.

E os seus cheiros?

Eu queria sentir aquele cheiro de saliva. Por todos os lugares que ele pudesse escorrer e percorrer.

Mas aí o cheiro e o gosto de misturam e passam a ser uma coisa só: suor, saliva, perfume, roupas, roupas de cama, anis, maçã, menta, canela. Tudo uma só e a mesma coisa ao mesmo tempo.

Por isso gostaria que esses braços e esses peitos estivessem prontos para mim, pois sei (e sei com certeza!) que eles viriam para explorar todos os gostos, cheiros e possibilidades.

Fica pronta logo pra mim (ou peça pra eu te esquecer de uma vez!)

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