terça-feira, 13 de outubro de 2009

Segunda-feira, 22 de Setembro de 2008


Mario e Giuli


Eles se encontraram na vida de forma interessante. Falaram sem se olhar.
Depois foram se apresentando, foram se conhecendo, foram se interessando.
Demorou algum tempo para que pudessem se tocar, nenhum tinha coragem de tocar o outro, ambos renunciavam às ilusões.
Os dois insistiam em, no momento em que chegavam em casa, olhar insistentemente para o espelho, procurando rugas, espinhas e alguns outros defeitos. Procuravam qualquer coisa, qualquer sinal evidente que os fizessem parecer ridículos e que dessem a eles os motivos necessários para assassinarem a paixão que queria nascer.
Mas não tinha jeito: cada vez que eles se viam a vontade de estar mais e mais próximos era incontrolável. Os dois se sentiam como dois idiotas quando um estava diante do outro, só sabiam rir, só sabiam soltar frases muito tolas e alegres.
Cada um se sentia a pessoa mais idiota do mundo, era como se o fingimento praticado tantas vezes na vida não funcionasse para eles dois, e olhe que os dois já eram pessoas razoavelmente experientes. Mas os dois queriam muito sempre estar perto um do outro, sempre se sentirem idiotas e sem palavras um do lado do outro.
E eles sabiam, e lidavam com isso da forma mais honesta possível, que um dia um não daria mais motivos para o outro rir, que os pequenos defeitos se tornariam insuportáveis com o tempo, que um trairia o outro e não teria coragem pra confessar.
E eles sempre falavam sobre isso, sobre o dia do desencontro, quando cada qual iria para um lado, faziam conjecturas: com traição, sem traição, com um outro parceiro, sozinho, com dramalhão, com brigas e baixarias para a delícia da vizinhança faminta de escândalos.
E no final os dois se abraçavam, com muita força.
Pacientemente esperavam pelo fim, pelo fim de algo que já nasce pra morrer, como se tivesse uma data de validade marcada em algum canto impossível de se ler.
Será que tudo se acaba amanhã? Daqui a um ano? Quando estivermos velhos ou quando morrermos?
Eles apenas se abraçam, sabem que tudo terá um fim um dia. Mas pouco se importam com isso.
Parece que a vida acertou ao juntá-los.

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